A família tinha acabado de voltar da borracharia e fechava o portão principal quando foi abordada por dois assaltantes no último sábado (2), na zona norte de Porto Alegre. Em segundos, um dos criminosos já estava na direção do carro deles — uma Parati de 2006 — e se preparava para ir embora. Mas o crime terminou de forma trágica, com a morte do advogado Fernando Nunes Machado, 42 anos, filho do casal.
Noiraci Borges Machado, 72 anos, contou que decidiu trocar os pneus do carro em uma borracharia 24 horas próxima da residência. O idoso acredita que o casal foi seguido pelos ladrões a partir dali.
Pouco tempo depois de deixar a borracharia, já estavam de volta à moradia. Na chegada, a mulher de Noiraci, Margarida Nunes Machado, 68, desceu do carro e abriu o portão de ferro. Subitamente, só sentiu o empurrão enquanto a Parati subia a rampa até a garagem. Um homem segurava sua mão, evitando que conseguisse fechar o acesso à moradia. Segundos depois, um comparsa do ladrão havia pulado para o interior do carro e tirou o idoso da direção.
— Ele literalmente me arrancou do carro. Daí comecei a gritar o nome do meu filho: Fernando! Fernando — conta Noiraci.
Não demorou para o advogado Fernando Nunes Machado, 42 anos, aparecer e tentar socorrer os pais. Divorciado, ele morava nos fundos da residência. Apareceu na garagem com uma arma em punho e disparou no assaltante que estava na rua, ao lado de sua mãe. O homem foi atingido na coluna.
— Ele saiu para me proteger. Avistou o assaltante que estava na rua e deu dois tiros no cara — relata o pai.
Mas o advogado não percebeu a presença do outro criminoso. De dentro do carro, o ladrão disparou três vezes, quebrando o para-brisas. Após os disparos, os criminosos fugiram sem levar nada. Fernando caiu no chão e dali foi levado às pressas para o Hospital Cristo Redentor, não resistiu e a morreu por volta das 22h.
A vida dele sempre foi estudar. Ele sempre foi muito trabalhador.
NOIRACI BORGES MACHADO
Pai do advogado assassinado em assalto na zona norte da Capital
A mãe do advogado relata que o clima é de insegurança no bairro Rubem Berta. O filho dela havia ganhado a arma de um oficial da Brigada Militar e não tinha permissão para uso.
— Se a gente não se defende, não tem como. Aqui está um horror. Várias vezes tentaram entrar aqui em casa — conta Margarida.
"Vida dele sempre foi estudar", conta pai
Para amigos e familiares, o gosto pelos estudos do advogado marcou sua trajetória.
— A vida dele sempre foi estudar. Ele sempre foi muito trabalhador — conta o pai.
Fernando se formou em direito na UniRitter em 2008. Depois de ser graduado, passou a se preparar para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Quando foi aprovado, chegou a até fazer uma celebração para pessoas próximas.
— Foi em 11 de agosto de 2009 — relata a mãe, sem titubear a data.
Segundo Margarida, Fernando advogou por quatro anos. Em 2013, fez concurso para escrevente do Tribunal de Justiça (TJ-RS) e, após ser chamado, começou a trabalhar em Teutônia, no Vale do Taquari. Ficou pouco de mais de dois anos por lá.
Em dezembro de 2018, pediu exoneração e passou a viver novamente com os pais. Na volta à moradia, fez reparos na residência: instalou condicionadores de ar e arrumou calhas da casa.
— Ele queria deixar tudo arrumado — conta a mãe, que tem outras duas filhas, de 38 e 50 anos.
Segundo um amigo de infância, que preferiu não se identificar, o advogado não bebia nem fumava e era extremamente dedicado.
— Ele ralou muito para se formar. Era um ser humano espetacular, trabalhador, nunca se envolveu com nada.
Latrocínio
Segundo o subchefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes, o caso é tratado como roubo com morte:
— O intuito dos criminosos era levar o veículo. Mas houve essa troca de tiros e eles acabaram fugindo sem levar nada. O rapaz foi socorrido, mas não resistiu — afirmou.