A Polícia Civil indiciou 21 integrantes de facção criminosa que queimaram vivo um homem suspeito de estuprar a própria filha de 12 anos. O caso ocorreu em janeiro deste ano à luz do dia, em uma área com grande movimento de pessoas no bairro Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre. Ao todo, 11 criminosos seguem presos, já que alguns foram inseridos no inquérito e outros retirados com o aprofundamento das investigações.
O delegado Rodrigo Pohlmann, que está respondendo interinamente pela 1ª Delegacia de Homicídios, destaca que os indiciamentos foram entregues à Justiça na quarta-feira (27) e os suspeitos respondem por homicídio triplamente qualificado, organização criminosa e tortura. Conforme o inquérito, a mandante do crime está presa e é conhecida como "madrinha" no bairro Bom Jesus. Outro indiciado é Marcio Oliveira Chultz, o Alemão Márcio, que cumpre pena de 37 anos em um presídio federal fora do Rio Grande do Sul. Ele é apontado como o verdadeiro líder da facção e teria autorizado a execução do homem.
O homem morto também integrava o grupo criminoso e não teve o nome divulgado porque a polícia também investiga se houve o estupro e, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a divulgação da identidade do pai expõe a adolescente de 12 anos. Outra pessoa indiciada é a mãe da menina, já que ela denunciou o companheiro para os traficantes — ela não teve o nome divulgado pelo mesmo motivo. A polícia não descarta que o pai da adolescente tenha sido morto pelo fato de que devia dinheiro para os líderes da facção.
O delegado Guilherme Gerhardt, que comandou a investigação, diz que, mesmo sem ter certeza do que havia ocorrido, os criminosos fizeram o chamado "tribunal do tráfico" e condenaram a vítima a morrer queimada em uma rua da região no dia 13 de janeiro.
— Os investigados seguiram um código de conduta próprio e eles mesmos julgaram a vítima em meio a uma sessão de tortura. Esses termos são usados por eles, ou seja, código de conduta, tribunal do tráfico e micro-ondas. Este último é colocar uma pessoa viva entre pneus e atear fogo — ressalta Gerhardt.
Câmeras de segurança gravaram o momento em que o homem foi jogado de um carro na Rua José Albano Volkmer, no bairro Jardim do Salso, na mesma região do bairro Bom Jesus. Machucado, ele pediu ajuda para várias pessoas, mas, devido à presença dos traficantes, ninguém ajudou.
O homem foi espancado e jogado em meio a uma fogueira em um matagal. Em um primeiro momento, após a saída dos traficantes do local, ele conseguiu escapar e engatinhou em plena rua com o corpo parcialmente queimado. Os criminosos voltaram e colocaram o homem em uma maca improvisada e o levaram novamente para o matagal, onde colocaram vários pneus em volta dele e atearam fogo. Alguns dos integrantes da facção saíram do local comemorando. Pouco depois, a Brigada Militar chegou no local.