A redução de 31,7% nos assassinatos no Rio Grande do Sul em fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado, é a maior da década. Foram 140 vítimas no último mês — 65 a menos que no mesmo período do ano passado. Em Porto Alegre, a queda foi ainda mais significativa. Com 23 registros, diminuiu 61,6%. Os dados foram divulgados ontem pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
Para o professor de Tecnologia em Segurança e Gestão Pública da Feevale, Charles Kieling, os dados indicam estabilização das facções, depois de período de disputas violentas, e passa pela melhora da renda.
— Quando há desestabilização desses grupos, a tendência é que os crimes se tornem mais violentos, com chacinas e decapitações. As quadrilhas conseguiram chegar numa espécie de consenso, pacificação. Iniciou-se também uma melhora da economia, da renda média das famílias. Isso inclui a de pessoas envolvidas no crime e de consumidores de drogas, que passam a conseguir pagar as despesas — explica.
Kieling enfatiza que é preciso levar em conta aspectos sazonais, que podem impactar nos números. O especialista considera positiva a iniciativa do governo de apostar em plano amplo, como o RS Seguro, que envolve o emprego de análise científica dos indicadores de violência e formas de prevenção, para tentar combater a criminalidade.
Juan Fandino, especialista em segurança pública e violência na América Latina, entende que os atuais comandos do Planalto e do Piratini têm pouco tempo de atuação para que iniciativas na área de segurança expliquem essa redução.
Para Fandino, a simples troca de gestões pode influenciar no inconsciente da população e das facções, que passam a repensar as ações. O especialista cita como exemplo a atuação mais ostensiva das polícias, com mais incentivo dos governos e da sociedade, como um dos fatores que podem explicar os números:
— Na população das gangues, eles estão sentindo que é necessário parar de lutar entre si porque vão enfrentar um inimigo superior (Estado). Eles conseguem sentir isso — afirmou.
Os dados referentes à criminalidade no Rio Grande do Sul serão divulgados mensalmente, de acordo com a SSP. Em junho do ano passado, GaúchaZH mostrou que o critério para divulgação dos índices mudou 11 vezes em 11 anos. Somente durante o governo José Ivo Sartori (MDB), os métodos foram alterados cinco vezes.