O terceiro suspeito de participar do planejamento do ataque a tiros na escola Raul Brasil se apresentou ao Fórum de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, por volta das 11h desta sexta-feira (15), foi ouvido e liberado. O Ministério Público não encontrou no depoimento indícios suficientes para apresentar denúncia contra o adolescente de 17 anos. Dez pessoas morreram no ataque e pelo menos outras 11 ficaram feridas.
Na tarde desta quinta-feira (14), o delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, havia pedido à Justiça que o adolescente fosse apreendido, por participação na instigação ao crime. Em virtude do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o processo que vai apurar a participação do jovem correrá em segredo de justiça.
Entre os 11 telefones celulares apreendidos pela polícia na quarta-feira, um deles pertence ao jovem. Quase todos os outros aparelhos são relacionados a Guilherme Taucci.
O envolvimento do terceiro suspeito no crime teria ocorrido no planejamento do crime, segundo o delegado Ruy Fontes. O dono do estacionamento onde Guilherme Taucci e Luiz Henrique de Castro, 25, guardaram o carro usado no ataque teria informado à polícia a participação do adolescente.
Eder Alves, 36 anos, dono do estacionamento onde a dupla deixou o carro alugado antes do massacre, foi à Delegacia Sede de Suzano nesta sexta-feira, para reconhecer a foto do adolescente de 17 anos apontado pela polícia como o terceiro suspeito pelo crime.
O empresário disse que viu uma terceira pessoa com Guilherme e Luiz, duas vezes, entre os dias 21 e 25 de fevereiro. Porém, afirmou que não reconheceu a fisionomia da foto mostrada pela polícia, apesar "do biotipo da imagem ser igual" ao do jovem acusado de incitar o massacre.
No estabelecimento, segundo o empresário, há uma câmera de monitoramento na área de atendimento, local onde o terceiro suspeito não chegou a ir.
— Mesmo que a polícia quisesse as imagens, não seria possível, pois o sistema mantém as imagens salvas por apenas sete dias — explicou.
Alves já havia sido chamada na quinta-feira para reconhecer uma foto do terceiro suspeito.
— Mas me chamaram de novo na delegacia, pois a foto que me mostraram era mais antiga.
Investigações
Colegas de classe da Raul Brasil também afirmaram que o adolescente e Guilherme eram muito próximos e, dias antes do massacre, o suspeito havia manifestado o desejo de entrar na escola atirando.
Os policiais acreditam que o plano seria executado pelos dois, mas, por motivos ainda desconhecidos, o adolescente acabou excluído da ação. Isso também revela que Guilherme seria o líder.
Fontes disse que a investigação vai tentar descobrir, agora, porque o novo suspeito não participou do ataque. Os policiais acreditam que Guilherme, já sem o comparsa, teria procurado Luiz Henrique para que este pudesse financiar o plano. Como tinha emprego regular, ele teria recursos para comprar as armas e alugar o veículo usado no dia dos assassinatos.
A polícia também apura se Luiz, o mais velho do trio, tinha algum déficit cognitivo.
— A gente entende que a personalidade dele não era tão firme a ponto de impedir ou deixar de ingressar na execução de um crime desse, principalmente liderado por uma pessoa que era pelo menos sete anos mais nova do que ele.
Segundo o delegado, os assassinos se inspiraram no massacre de Columbine, ocorrido em 1999, nos Estados Unidos, mas queriam ser ainda mais cruéis.
— Eles queriam demonstrar que podiam agir como aconteceu em Columbine, com crueldade e com caráter trágico, para que eles fossem mais reconhecidos do que aqueles — disse Fontes.
A dupla usou um revólver, carregadores, uma besta (arma medieval), um machado, uma machadinha, coquetéis molotov e granadas de fumaça. As roupas usadas seriam inspiradas no jogo de videogame Call of Duty, episódio Ghosts, um jogo de tiro em primeira pessoa.
O crime ocorreu em meio ao debate sobre posse de armas e chama a atenção por ter sido cometido em dupla e longamente planejado.
Na quarta, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) lamentou o atentado seis horas após o ocorrido. Nesta quinta, em transmissão pela internet, disse que o atentado era uma barbaridade e que não é possível entender como os criminosos chegaram ao ponto de terem cometido o crime.