
Há dois anos, o trabalho de motorista de aplicativo era a renda extra de Caroline Nogueira Rodrigues, 36 anos, encontrada morta em Gravataí na última sexta-feira (22). Cabeleireira, alternava entre a tesoura do salão e o volante. A dedicação ao trabalho era praticamente integral. Sem tempo, usava o WhatsApp para falar com o pai Manoel Enon Soares Rodrigues, 69 anos.
— Era maravilhosa. Sempre ajudava todo mundo — conta uma de suas duas irmãs, que preferiu não se identificar.
Como motorista de aplicativo, já tinha passado maus bocados. Em outubro do ano passado, foi chamada para uma corrida de Alvorada para Viamão. No meio do caminho, uma arma foi apontada para sua cabeça. Os criminosos anunciaram o assalto e ela acabou tendo o carro levado. Depois, o veículo foi encontrado em Viamão.
Apesar do episódio de violência, Caroline não tinha restrições para aceitar uma corrida.
— Onde o aplicativo chamava, ela ia — conta o pai.
No começo da noite de sexta-feira (22), chegou a avisar uma amiga que estava indo para uma corrida, mandando a localização pelo WhatsApp. "Está tudo bem?", perguntou a mulher. Como resposta, recebeu um "não sei". Em seguida, o celular foi desligado e a interlocutora não pode mais acompanhar o percurso seguido por Caroline.
Um perito relatou à família que, além dos tiros, o corpo apresentava sinais de luta corporal, indicando que Caroline tentou sair do carro ou se desvencilhar de alguém. Conforme o delegado Eduardo Amaral, da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) de Gravataí, a polícia trabalha com pelo menos duas hipóteses: feminicídio, pela brutalidade com que foi morta, e latrocínio, já que junto ao corpo não foram encontrados telefone celular, carteira ou outros objetos pessoais.
O corpo da motorista foi encontrado na Estrada Rincão da Madalena com marcas de tiros de pistola .380 disparados contra sua cabeça. Já o carro foi localizado a dois quilômetros de distância.
O velório e o sepultamento de Caroline ocorreram neste domingo (24) no Cemitério Santo Antônio, em Canoas, na Região Metropolitana.

"Ainda não caiu a ficha", diz mãe
Sentada em um banco de madeira durante o velório da filha, a mãe de Caroline, Rita Maria Nogueira Rodrigues,62 anos, não se convencia da morte da filha.
— Para mim ainda não caiu a ficha 100% — conta a mãe, com o olhar abatido.
Rita era chamada de "mãezinha" pela filha, que não poupava presentes para ela. De quebra, era nominada de "minha flor" por ela. O apego das duas provocava ciúmes das duas irmãs.
— Era muito dramática — diz uma das irmãs.
Caroline morava em Alvorada, era solteira e não tinha filhos.
Contraponto
Procurada, a assessoria de comunicação da Uber afirmou que a última corrida realizada pelo aplicativo foi finalizada com "sucesso". Em seguida, enviou uma nota:
Traz enorme tristeza à Uber que cidadãos que desejam apenas trabalhar ou se deslocar sejam vítimas da violência que permeia nossa sociedade. Compartilhamos nossos sentimentos com a família de Caroline Nogueira Rodrigues neste momento tão difícil, e esperamos que as autoridades tragam os responsáveis à Justiça o mais rapidamente possível.
Caroline atuava como motorista parceira, mas suas últimas viagens pelo aplicativo da Uber foram concluídas normalmente, não havendo, ao que tudo indica, qualquer relação com o ocorrido. De qualquer forma, a Uber permanece sempre à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações, na forma da lei.




