A violência dá mostras de arrefecimento em Porto Alegre e na Região Metropolitana — com a queda dos casos de homicídio e de latrocínio — a partir de 2017, quando o policiamento começou a ser reforçado, e as ações ostensivas e repressivas, intensificadas. Ao mesmo tempo, os criminosos, aparentemente, armam-se mais.
Como reflexo, o ano começou com recordes nas apreensões de armamento e munição pela Brigada Militar. Em janeiro, na média, três armas e 65 projéteis irregulares foram retirados das mãos de criminosos por PMs a cada dia em nove cidades: Canoas, Nova Santa Rita, Esteio, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Gravataí, Glorinha, Viamão e Alvorada.
As 91 armas recolhidas representam aumento de 75% em relação ao mesmo mês de 2018, quando foram apreendidas 52. Já na munição, o crescimento foi de 244,8%, com 2.024 contra 587. Na Capital, cresceu timidamente o número de armas e caiu o de munição (veja os dados no quadro abaixo).
Na Região Metropolitana, os números absolutos relativos a recolhimento de munição em 2019 representam marcas históricas para cinco dos sete batalhões que atendem às cidades, pelo menos nos últimos cinco anos. Para o comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Oto Eduardo Amorim, a atuação conjunta entre unidades e com outras corporações é fundamental:
— Em todos os batalhões, houve integração com o setor de inteligência, com a Polícia Civil e com a Rodoviária Federal. Então, há muita troca de informações, além de ações de abordagem e barreiras.
Sobre o trabalho da inteligência, o oficial destaca que análises de locais onde ocorrem crimes, de possíveis grupos que atuam nessas áreas e de quadrilhas rivais, têm possibilitado aumentos nos números de prisões e apreensões.
Em Sapucaia do Sul, outro número impressionante: o 33º Batalhão de Polícia Militar (BPM), recolheu 1.160% mais munições do que em 2018.
— Houve mudança de rotina e de postura no trabalho, com mais ações e apoio do Choque. A inteligência nos aponta os locais e horários de maior incidência de crimes, e nosso efetivo age para coibi-los — argumenta o tenente-coronel Vladimir Luis Silva da Rosa, comandante do 33° BPM.
A integração, de novo, é apontada como fator fundamental pela capitã Kátia Lopes, que responde pelo 17º BPM, que atende a Gravataí. No município, em 2018, houve queda de 54,4% no número de homicídios, na comparação com 2017. Foi o maior índice do Estado. Em janeiro deste ano, o recorde ficou na apreensão de armas, com crescimento de 266% em relação ao mesmo mês do ano passado.
— Tivemos reforço no efetivo, o que nos possibilita mais ações, e os grupos criminosos podem ter se armado mais, a partir da nova conjuntura política, que indica maior combate à criminalidade — analisa a capitã.
Especialista vê três pontos como fatores
O sociólogo colombiano Juan Mario Fandino, radicado no Rio Grande do Sul e pesquisador de temas da segurança pública, aponta três fatores principais na explicação do crescimento do número de apreensões de armas e munição.
Em primeiro lugar, segundo ele, houve aumento das ações das polícias, que sentiram-se mais prestigiadas com os discursos do novo governo, que promete endurecer a repressão ao crime. O sociólogo observa, ainda, possível reação de parte dos criminosos, que estariam se armando mais para esse novo momento. Como terceiro fator, Fandino aponta a legalização da maconha no Uruguai, que, em sua avaliação, estaria estimulando a disputa de facções criminosas do Rio Grande do Sul pelo mercado excedente no país vizinho. Ou seja: os grupos gaúchos se confrontam também para suprir o que o mercado legal uruguaio não consegue atender e, por isso, estão se armando mais.
— Com o prestígio do novo governo, forças policiais estão mais estimuladas no trabalho de repressão. É como injeção de ânimo. De outra parte, com o recado das urnas, a população criminal entrou em prontidão para enfrentar a nova conjuntura, mais repressiva. Soma-se o novo mercado surgido no Uruguai, principalmente pela proximidade com o Rio Grande do Sul — analisa, e complementa:
— Prevejo momentos difíceis pela frente, pois a criminalidade está numa luta cega e não se intimida. Acredito que a disputa seja ganha pelo governo, com preço alto.