Correção: das 22h37min de terça-feira (22) às 17h de quarta-feira (23), por um erro de edição, um parágrafo da reportagem foi suprimido. A declaração ("Não preciso ter o motivo para acusar alguém de ter matado. Mas, neste caso, um dos motivos é essa relação conjugal estremecida. Não dormiam nem na mesma cama. Está comprovado que ele tinha relações extraconjugais. O Paulo Ivan praticou o crime para se desvencilhar da relação, sem dividir o patrimônio. Há outros motivos? Pode ser que sim") é do promotor Marcos Eduardo Rauber, e não de Elisângela Messing Carpes. O texto original foi corrigido.
Quem chega a Boa Vista das Missões, município de pouco mais de 2 mil habitantes na Região Noroeste, cercado de verdes campos cobertos de soja, depara com a mensagem: “O tempo poderá passar, mas estaremos sempre lutando por Justiça”. É uma homenagem a Sandra Mara Lovis Trentin, 48 anos, que desapareceu em janeiro de 2018, após sair da casa onde vivia com a família no município.
Por quase um ano, os moradores se questionaram se ela realmente foi vítima de um crime e por que o corpo não havia sido encontrado. Com a localização de restos mortais, que possivelmente seriam dela, às margens da BR-158, na manhã de segunda-feira, o que intriga a comunidade é o por que a contadora foi morta e quem foram os autores do assassinato.
Em 30 de janeiro do ano passado, Sandra seguiu em direção a Palmeira das Missões, município a 25 quilômetros de Boa Vista, para resolver pendências do escritório de contabilidade, e nunca mais retornou. Para a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), o marido e pai das três filhas dela, o vereador Paulo Ivan Landfeldt, foi o mandante do crime.
O político chegou a ficar detido por quatro meses, mas acabou solto e responde ao processo em liberdade. Também foi preso Ismael Bonetto, apontado no inquérito e pela acusação como quem teria matado a contadora, em troca de dinheiro. O pagamento teria sido feito pelo marido. Os dois negam envolvimento no crime.
Na comunidade, acostumada com rotina tranquila, o mistério sobre os motivos do assassinato é tratado com cautela.
— Conhecia a Sandra há muitos anos, ficamos aliviados que acharam o corpo. Pelo menos a família poderá sepultar. Mas é muito triste. O Paulo também é uma pessoa conhecida aqui. Será que faria isso? A gente não sabe o que pensar, por que fizeram isso e quem fez — conta uma comerciante.
O local onde o corpo foi encontrado, ao lado de uma lavoura de soja, dentro de uma propriedade, também intriga a comunidade.
— Como é que podem achar só depois de tanto tempo? Tão perto da rodovia. É tudo muito estranho — questiona-se outra moradora.
MP tem convicção de que marido está envolvido
Durante a investigação, a polícia chegou a investigar se o crime poderia estar ligado a problemas financeiros, envolvendo o escritório de Sandra. Mas isso não ficou comprovado na apuração. O escritório, que hoje tem outro contador, segue funcionando, com novo nome.
– Muitas pessoas vêm perguntar da Sandra, acabamos nos acostumando com isso. Foi ela que tocou esse escritório desde o início e é por ela que seguimos aqui – relata a funcionária do escritório e comadre da contadora, Elisângela Massing Carpes.
Para o promotor Marcos Eduardo Rauber, a motivação do crime está vinculada a uma relação do casal conturbada, por conta de históricos de infidelidade do vereador. Embora Landfeldt afirme que mantinha boa relação com a mulher, o representante do MP garante que a realidade era diferente. Mas admite que, sem confissão dos réus, o motivo poderá nunca ser esclarecido totalmente.
– Não preciso ter o motivo para acusar alguém de ter matado. Mas, neste caso, um dos motivos é essa relação conjugal estremecida. Não dormiam nem na mesma cama. Está comprovado que ele tinha relações extraconjugais. O Paulo Ivan praticou o crime para se desvencilhar da relação, sem dividir o patrimônio. Há outros motivos? Pode ser que sim – argumenta.
Para o promotor, a localização do corpo é a prova de que Sandra foi vítima de um crime, como foi apontado pela acusação.
– Isso soterra definitivamente as teses da defesa de que a Sandra estivesse viva e pudesse até ter fugido. Ela estava morta e há bastante tempo – diz.
CONTRAPONTO
O que dizem as defesas
O defensor Antônio Korsack Filho, que defende Ismael Bonetto, ingressou ontem com pedido de soltura do réu. Ele argumenta que a localização do corpo, quase um ano após o sumiço, pode ter sido facilitada pelos autores do crime e que isso não poderia ser feito por Bonetto, que permanece preso.
Os advogados João Taborda e Breno Francisco Ferigollo, que representam Paulo Landfeldt, afirmam que a localização do corpo poderá permitir que a polícia chegue aos verdadeiros culpados pela morte de Sandra. Eles negam qualquer envolvimento do vereador com o crime e afirmam que ele foi extorquido por Bonetto.