Motoristas que trabalham conduzindo passageiros através de aplicativos vivem sob a sombra do medo. Nesta semana, um rapaz de 21 anos foi vítima de latrocínio (roubo com morte) em Viamão.
GaúchaZH ouviu 20 condutores assaltados na Região Metropolitana. Desses, dois foram esfaqueados e dois baleados.
Os motoristas de aplicativos preparam para segunda-feira uma paralisação na Capital. A partir das 5h devem iniciar a concentração, e a partir das 8h farão uma caminhada. A mobilização está prevista para se dispersar às 18h30min.
Contadora de 29 anos, há um ano e dez meses no app
O crime: Quatro rapazes embarcaram em Cachoeirinha com destino ao bairro Guajuviras, em Canoas, em julho de 2018. No caminho, ainda conversaram com a motorista, em tom amigável. No limite entre as duas cidades, anunciaram o assalto.
— O que sentou atrás de mim segurou meu pescoço e o que estava do lado tirou a faca - conta a condutora.
Ao sair do carro, a motorista conseguiu puxar uma bolsa no qual estavam R$ 300. Os assaltantes levaram o veículo, que foi encontrado no dia seguinte, sem o rádio. Após o assalto, ficou mais rigorosa ao aceitar corridas. Cancela chamadas de mulher para passageiros homens, evita dirigir para mais de duas pessoas e não aceita corridas de locais de risco. Também dá preferência para pagamento em cartão de crédito.
— Até levo a pessoa em área de risco, mas lá dentro não pego ninguém — conta.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? O assalto e as recentes mortes de colegas fizeram a motorista repensar o futuro, devido à violência. Agora, ela pensa em mudar de ramo e voltar para a atuar como contadora.
Reivindicação para que fique mais seguro? Disponibilizar foto de passageiro, upload dos documentos dos solicitante da corrida e um registro mais criterioso dos passageiros.
Motorista de 61 anos, há um ano e oito meses no app
O crime: no final de outubro de 2018, pegou dois passageiros próximo da orla do Guaíba, em Porto Alegre, com destino a Alvorada. Um deles demonstrava estar embriagado. Já em Alvorada, outros dois passageiros embarcaram. O carro andou poucos metros até ocorrer o assalto.
— Um deles dizia, "vai mais para frente, mais para frente", Foi aí que percebi que ia ser assaltado. O que estava do meu lado desligou carro, outro desceu do veículo e começou a me revistar. Já estava prevendo, não tinha o que fazer — conta.
Uma arma de fogo foi apontada para a sua cabeça. Ele tirou o cinto e desceu do carro. Além de R$ 100, foram levados documentos. O veículo foi recuperado no dia seguinte, após fazer uma publicação nas redes sociais.
Após o assalto, decidiu começar a trabalhar mais tarde nos domingos: das 6h para as 8h. Também deixou de trabalho à noite e só aceita corridas no cartão de crédito.
— Aumentei em torno de 40% os cancelamentos. Se chegar no local e ficar na dúvida, caio fora.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Já pensou em voltar ao trabalho anterior, motivado pela violência. Entretanto, recentemente comprou um carro zero e, por enquanto, não pensa em largar os aplicativos.
Reivindicação para que fique mais seguro? No caso do Uber, possibilidade de escolher o tipo de pagamento, em dinheiro ou no cartão, além de mostrar o destino final do passageiro. O motorista propõe ainda uma maior integração entre os órgãos de seguranças com as empresas de aplicativo.
Metalúrgico de 32 anos, há dois anos e meio no app
O crime: no último sábado (5) estava retornando para casa em Canoas, quando foi chamado para uma corrida no bairro Niterói por uma mulher. Ela informou por mensagem que a corrida seria para o namorado. Ao chegar no ponto de partida, o homem pediu para aguardar um pouco, que outro passageiro iria embarcar. Ele ainda questionou o motorista da onda de crimes contra motoristas de app. Os dois embarcam e, no momento que o carro dobra a esquina, um dos passageiros saca uma pistola e aponta na cabeça do motorista. Além do carro, foram levados um telefone e R$ 300. O carro foi encontrado 1 hora depois.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Sim, devido ao clima de insegurança. Tem planos de abrir um negócio próprio.
Reivindicação para que fique mais seguro? Exigir antecedentes criminais dos passageiros e melhorar o botão de pânico.
Administrador de 47 anos, há dois anos e 11 meses no app
O crime: o motorista relata ter sido roubado três vezes, em todas as vezes deixava passageiros quando foi abordado por criminosos. Na última ocasião, em julho de 2017, aceitou uma corrida de uma passageira na Avenida Sertório, na zona norte de Porto Alegre, e a deixou na vila Elizabeth, bairro Sarandi.
— Quando estava ajudando a tirar sacolas de dentro do carro dois homens armados se aproximaram e anunciaram o assalto — afirmou.
O condutor teve o veículo levado. Depois do crime, deixou de fazer corridas pela Uber.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Pensa em deixar os aplicativos devido a insegurança. Entretanto, por enquanto, esta é a única fonte de renda.
— Na verdade, o projeto é esse, está muito inseguro — relata o motorista
Reivindicação para que fique mais seguro? No caso da Uber, possibilidade de escolher aceitar ou não as corridas em dinheiro.
Advogada de 41 anos, há seis meses no app
O crime: ela relata que, ao deixar uma passageira em um restaurante na Avenida Getúlio Vargas, em Porto Alegre, em 21 de dezembro de 2018, dois homens em uma parada de ônibus a abordaram.
— Não vi se estava armado, disse que estava armado, não fiquei para ver. Tinha alguma coisa na mão, falou para mim que ele estava armado e que ele queria carro e dinheiro - conta a motorista.
Após ter o carro levado, a motorista atravessou a rua e pediu ajuda para a passageira para chamar a polícia. Depois do crime, a advogada ficou mais precavida, mas dirige com medo.
— Trabalho todo o dia tensa.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Sim, devido à violência. Entretanto, atualmente esta é a principal fonte de renda dela, após ter sido demitida da empresa que trabalhava.
— Única opção é trabalhar como aplicativo. Todo dia rezo para recoloque no mercado de trabalho.
Reivindicação para que fique mais seguro? Indicar o destino final da viagem e ser mais rigoroso com o cadastro dos passageiros, exigindo foto do passageiro. Sugere que as empresas fazem pente-fino em perfis falsos.
Motorista de 67 anos, há dois anos no app
O crime: há cerca de um ano, ele teve o carro levado por dois passageiros.
O casal embarcou no início da Avenida Bento Gonçalves e seguiu até a Rua Uruguai, no Centro de Porto Alegre. Antes de concluir a viagem, a mulher apontou uma faca para o motorista e exigiu o carro. Em seguida, fugiram. Poucos metros à frente, próximo ao Gasômetro, bateram o automóvel em um poste. Além do estrago no veículo, teve moedas levadas pelos criminosos. Devido ao crime, evita trabalhar à noite.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Sim, por medo da criminalidade. Entretanto, devido à idade avançada e a baixa aposentadoria trabalhar com aplicativo garante uma renda extra.
Reivindicação para que fique mais seguro? "Ser mais exigente com passageiros e evitar que uma pessoa chame um carro para outra", uma prática que considera recorrente. Além disso, apresentar foto do passageiro.
Motorista de ônibus, 39 anos, há três anos no app
O crime: o motorista relata que foi abordado por criminosos na zona norte da Capital.
— Fui assaltado em novembro, às 11h30min, no bairro Sarandi. Estava chegando para buscar uma senhora, quando um veículo fechou meu carro. Um desceu do lado do carona e me abordou com arma. Levou o veículo, dois celulares e minha carteira, com documentos
Pensa em mudar de ramo? Não.
— Para ganhar o que ganho, em outra profissão, teria que ter uma boa formação acadêmica. Não compensa eu largar e trabalhar como contador — afirma.
Reivindicação para que fique mais seguro?: Defende que deveriam mostrar foto do usuário e deixar cadastro e passageiros mais rigorosos, com exigências de documentação.
Aureo Neri Almeida da Rosa, 61 anos, há três anos e meio no app
O crime: ele relata que foi assaltado quatro vezes.
— Na última, em novembro, atendi uma corrida às 13h, em Cachoeirinha. Era um passageiro com boa aparência. Sentou atrás, ia conversando, disse que também era motorista de aplicativo. Na Estrada do Nazário, em Canoas, me deu uma gravata e enfiou a faca no meu pescoço. O sangue começou a jorrar, ele me atirou no chão, pegou o carro e saiu. Deu a facada para me matar. Não deu para ferir. Atravessou uma faca no meu pescoço. Perdi metade do sangue do meu corpo. Quando me socorreram, fui para o hospital rezando, sabia que ia morrer. Foi um verdadeiro milagre.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Fiquei 10 dias na UTI e 20 dias hospitalizado. Ainda estou em recuperação. Tenho muita dificuldade em comer, mastigar e falar. Não pretendo voltar — afirma.
Reivindicação para que fique mais seguro? Acredita que o cadastro deveria ser mais rigoroso e é contra pagamento em dinheiro.
Operadora de telemarketing, 51 anos, há dois anos e quatro meses no app
O crime: ela relata que foi assaltada em plena via, em Porto Alegre:
— Em dezembro de 2017, umas 7h30min, tinha trabalhado madrugada toda. Estava atendendo uma corrida na Ciro Gavião, no Bela Vista. Emparelharam o carro comigo e desceram. Dois me abordaram na janela com arma. Levaram o carro, celular, tudo, dinheiro. O carro foi recuperado uns 15 dias depois.
Pensa em mudar de ramo? Não sabe.
— Bati meu carro em dezembro, ele fica pronto no fim do mês. Depois desses últimos acontecimentos, não sei se volto. Está me dando um pânico.
Reivindicação para que fique mais seguro? Espera um cadastro mais rigoroso dos usuários.
Universitário, de 23 anos, há dois anos no app
O crime: ele relata que aconteceu em dezembro de 2017, no bairro Humaitá, em Porto Alegre, por volta das 17h.
— Chamaram uma corrida, em nome de uma mulher. Quando cheguei, dois rapazes entraram. Era uma viagem para São Leopoldo, no Scharlau. Próximo do destino, anunciaram o assalto. Pediram para desembarcar e mandaram entrar no porta-malas. Durante meia hora, fiquei refém. Não sabia o que iam fazer comigo. Acabaram me deixando num lugar ermo. Levaram veículo, dinheiro e telefone. Foi difícil retornar, mas por necessidade a gente ergue a cabeça e volta.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Gostaria de deixar a atividade. Vejo como algo provisório para esse período em que não ingressei no mercado de trabalho.
Reivindicação para que fique mais seguro? Entende que cadastro de passageiros deveria exigir foto e documentos.
Empresário de shows e eventos, recém-formado em Direito, 56 anos, há um ano e sete meses no app
O crime: no início do ano passado, ele relata que foi buscar um passageiro no bairro Belém Velho, na zona sul de Porto Alegre. Ao chegar ao local, não o encontrou e passou a rondar pela região. Tentou contato com o passageiro, que não atendeu. Quando percebeu estava dentro de um beco. Ao tentar dar ré, dois homens se aproximaram e um deles apontou uma pistola para o carro e passou a atirar.
— Eu só me abaixei e saí em alta velocidade.
Após o crime, deixou de fazer corridas para a Uber e, nos outros aplicativos, só aceitou corridas com cartão de crédito.
Pensa em mudar de ramo? Sim, pensa em atuar como advogado devido à insegurança.
Reivindicação para que fique mais seguro? Fazer com que Uber e 99Pop sejam mais exigentes com os passageiros, exigindo documento de identidade, CPF, atestado de comprovante de residência e, se possível, atestados de bons antecedentes.
Montador de móveis, 35 anos, há um ano e meio no app
O crime: ele relata que aconteceu em um domingo, dia 30 de dezembro, às 7 horas, na rua Santa Isabel, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre.
— Fui buscar um passageiro e quando esperava para fazer embarque, parou carro do lado, dois desceram armados, me renderam e levaram o carro, celular, carteira de motorista, meu dinheiro e cartões.
Pensa em mudar de ramo? Não.
— Vou continuar, mas se desconfio do passageiro, passo e cancelo.
Reivindicação para que fique mais seguro? Reclama que os aplicativos punem com bloqueio os motoristas que fazem cancelamentos repetidas vezes no dia e do tempo de espera, de cinco minutos, que facilita a abordagem dos criminosos.
Universitário, 29 anos, há um ano e meio no app
O crime: relata que aconteceu em março, no bairro Farrapos, em Porto Alegre.
— Pediram uma corrida em nome de uma mulher, Luana. Dois rapazes embarcaram. A corrida era para o Partenon. Na Avenida Ceará, um deles puxou a faca e encostou no meu pescoço. Me mandou encostar. "Perdeu, perdeu". Desci do carro apavorado. Levaram tudo que eu tinha. Abandonaram o carro no mesmo dia, na Lomba. Celular e dinheiro não recuperei.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Minha meta é chegar em dezembro e desligar esse aplicativo. Até me formar não posso abandonar. A cada dia a gente vê relatos de colegas e o medo aumenta.
Reivindicação para que fique mais seguro? Acredita que os aplicativos precisam ser mais exigentes com os cadastros dos usuários e dos motoristas.
Universitário, 43 anos, há três anos no app
O crime: relata que aconteceu em outubro de 2016.
— Peguei a passageira no aeroporto e quando cheguei no destino dela, desembarcou e tirei as malas. Dois rapazes me renderam. Levaram meu carro. O meu segundo assalto foi em novembro de 2017. Deixei uma passageira na Rua Jari (Passo d'Areia). Quando arranquei, fui fechado por outro carro e um deles desceu armado. Entrou no banco de trás. Ficou me batendo com a arma. Levou carro, sapatos, camisa, dinheiro e o celular.
Pensa em mudar de ramo? Não sabe.
— O mais difícil depois de um assalto é sair no outro dia pela manhã. Tem que superar o medo. Hoje por estar estudando, preciso até me formar.
Reivindicação para que fique mais seguro? Defende melhor identificação de passageiros.
Militar, 27 anos, ha dois anos no app
O crime: relata que aconteceu no dia 5 de novembro de 2018, em Canoas, ao meio-dia.
— Recebi a chamada de uma moça. Ela embarcou e pediu para pegar um amigo. Entraram dois. Mais na frente, ela desceu e disse que os rapazes iam até Novo Hamburgo. Eu me recusei. Um deles colocou a arma nas minhas costas. Avisou que ia até NH e ficariam com minhas coisas. Se olhasse para eles iam me matar. Me obrigaram a descer do veículo. O do banco da frente pulou para o do motorista e disse "apaga ele, apaga, ele viu a nossa cara". Algo se mexeu no mato e todos olhamos. Naquele segundo, eu corri. E eles foram embora.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Meu pai e minha mãe pedem todos os dias que eu saia disso. Não posso falar perto deles no meu trabalho.
Reivindicação para que fique mais seguro? Defende um cadastro, com documentos e foto, dos usuários. Sugere que os apps informem o número de viagens feitas pelo usuário na plataforma.
Motorista, 46 anos, há dois anos no app
O crime: relata que aconteceu em Viamão, em março de 2018.
— Peguei uma passageira. Nisso parou um veículo. Não sei se gritaram que era um assalto e não ouvi. Deram quatro tiros no carro. Uma bala pegou na nuca e outra está alojada na coluna. Se pegasse um dedo para a esquerda teria morrido ou ficado paraplégico. Sinto dores e parte do meu corpo adormecido. Voltei a trabalhar em agosto, com dificuldade, e em outubro fui assaltado de novo. Os caras levaram meu carro e os celulares.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Continuo procurando emprego e se conseguir vou deixar. Está muito perigoso. Minha mulher me diz sempre para largar. Mas tenho uma casa para sustentar.
Reivindicação para que fique mais seguro? Entende que aplicativos Uber e 99 deveriam melhorar a identificação do passageiro.
Motorista, 32 anos, há dois anos no app
O crime: relata que aconteceu há cerca de dois anos.
— Peguei um passageiro na Farrapos e deixei na Avenida Ceará. Encostei o carro, fui pegar o telefone. Quando vi o cara já estava do meu lado. Anunciou o assalto e me mandou sair. Ficou o tempo todo apontando a arma pra mim.
Pensa em mudar de ramo? Não.
— Pretendo continuar, não tenho nada em vista, e não me vejo trabalhando em outra coisa. Rende um dinheiro bom. Mas está bem complicado, perigoso.
Reivindicação para que fique mais seguro? Reclama da falta de informação sobre destino, das sanções para motoristas que cancelam corridas e da fragilidade do cadastro de usuário.
Gesseiro de 43 anos, há seis meses no app
O assalto: No último sábado, aceitou uma corrida de uma mulher do bairro Umbu, em Alvorada, até o hospital de Cachoeirinha. Ao chegar ao ponto de partida, a mulher estava acompanhada de um homem, mas apenas ele entrou no veículo. O falso passageiro sentou no banco de trás e, no meio do caminho, anunciou um assalto com uma faca em punho. Em seguida, tentou esfaquear o motorista.
— Em um momento de descuido dele, eu saltei para fora do carro. Mas ele veio atrás de mim e a gente entrou em luta corporal. Eu fui esfaqueado duas vezes, abaixo do peito e no braço — conta o condutor.
Ele conseguiu recuperar o carro, que tinha rastreador. Passado uma semana, ele ainda se recupera dos machucados. Nesta sexta-feira (11), ainda tinha dificuldade para abrir uma das mãos. Ele reclama da falta de assistência do 99Pop, que se prontificou apenas a pagar os remédios.
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Sim. Entretanto, devido à baixa no serviço como gesseiro, o trabalho como motorista de aplicativo é o principal ganha pão dele.
Reivindicação para que fique mais seguro? Permitir pagamentos apenas no cartão de crédito e, no caso do 99, aumentar os critérios de análise dos passageiros.
Motorista, 52 anos, há dois anos no app
O crime: relata que aconteceu em setembro, no bairro Passo D'Areia, em Porto Alegre.
— Devia ser uma menina, mas embarcou um rapaz. Eu mal arranquei o carro e ele meteu a faca nas minhas costas. Era dia. Nunca pensei que seria assaltado assim. Pegou meu celular e o dinheiro que eu tinha. Não levou o carro.
Pensa em mudar de ramo? Sim.
— Não queria estar em app. É a opção que tenho, sem emprego. Mas a violência acho que é generalizada. Não é só por ser motorista de app.
Reivindicação para que fique mais seguro? Reclama do tempo de espera e pede cadastro mais rigoroso.
Comunicador visual, 40 anos, há seis meses no app
O crime: Relata que aconteceu no dia 30 de dezembro de 2018.
— Uma moça chamou o aplicativo na Avenida Otto Niemeyer até a Rua Dona Otília. No bairro Nonoai, ela pediu pra descer. Dois caras chegaram e anunciaram o assalto. Eles estavam armados e a moça sabia de tudo. Me deixaram de cueca e um dizia para o outro: 'mata ele que eu não gosto de motorista de Uber'. Eu falei pra me deixarem vivo pois tenho três filhos. Eles disseram que não iam me matar, porque já tinham conseguido o que queriam, que era o carro (um Prisma).
Pensa em mudar de ramo? Por quê? Sim.
— Penso em voltar pro meu antigo serviço porque nos aplicativos nós não temos segurança e estabilidade. Saio de casa às 5h30min da manhã e não sei se vou voltar.
Reivindicação para que fique mais seguro? Pede que o aplicativo mostre o destino do passageiro com antecedência, e que exija que todos os passageiros cadastrem nome completo e coloquem uma foto sua no app.
Contrapontos
O que dizem as três empresas de transporte por aplicativos
Cabify
"A Cabify investe e desenvolve continuamente tecnologias para reduzir os possíveis riscos de segurança de todos os envolvidos na plataforma de mobilidade, sejam motorista parceiros ou passageiros. A empresa solicita que usuários e motoristas parceiros relatem toda e qualquer situação atípica e suspeita para o suporte da Cabify, disponível 24 horas nos 7 dias de semana. Para os motoristas parceiros, oferece também contato telefônico para emergências.
É disponibilizado ainda o Seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP) para caso de morte ou invalidez de todos dentro do veículo e também cobertura para despesas médicas. A Cabify registra diversas informações como todas as etapas de uma viagem (pedido, a aceitação do motorista parceiro, a finalização da corrida e o pagamento), inclusive por GPS. Com esses e outros dados e respeitando o Marco Civil da Internet, é possível oferecer suporte e informações, inclusive para as autoridades.
A Cabify disponibiliza a opção de pagamento por cartão de crédito para viagens solicitadas a motoristas privados pelo aplicativo no Brasil. Para se cadastrar como motorista parceiro da Cabify, os interessados devem se registrar pelo site. Após o preenchimento do formulário, é realizado o processo de cadastramento, que conta com envio de documentos, checagem de exames toxicológicos e de antecedentes criminais. Somente depois dessas etapas, o parceiro terá seu cadastro liberado na plataforma e estará apto a fazer corridas pela Cabify."
Uber
"Segurança é prioridade e a empresa está sempre buscando aprimorar sua tecnologia para fazer da plataforma a mais segura possível. Ao longo de 2018, a empresa passou a adotar no Brasil o recurso de machine learning, que usa a tecnologia para bloquear viagens consideradas mais arriscadas e lançou uma ferramenta que reúne os recursos de segurança para motoristas parceiros — inclusive um botão para ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app. Ouvindo motoristas e buscando o equilíbrio da transparência com a experiência dos usuários, a Uber lançou em agosto do ano passado novo aplicativo para motoristas, que inclui a informação de qual será a forma de pagamento antes de o usuário embarcar e antes da viagem começar. Se o usuário escolher efetuar o pagamento em dinheiro, por exemplo, essa opção será exibida na tela do do motorista.
Em setembro, a empresa começou uma nova rodada de testes para implementação do recurso que mostra aos motoristas parceiros o destino do usuário antes do início da viagem em três cidades: Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Além disso, o aplicativo exige do usuário que quiser pagar somente em dinheiro que insira o CPF e data de nascimento, dados que são checados com a base de dados da Receita Federal. Todas as viagens são registradas por GPS, o que permite colaborar com as autoridades, nos termos da Lei, em caso de necessidade, e o motorista também pode compartilhar a localização, o trajeto e o horário de chegada, em tempo real, com quem desejar.
O aplicativo da Uber permite ainda que solicitações de viagens sejam canceladas por motoristas parceiros sinalizando motivo de segurança quando não se sentirem confortáveis."
99
"A 99 é uma genuinamente preocupada com a segurança de seus passageiros e motoristas. O assunto é prioridade máxima, e um de seus três pilares fundamentais (promover transporte rápido, econômico e seguro). Para garantir que o serviço seja seguro, a 99 montou equipe especialmente dedicada, composta por mais de 70 pessoas incluindo ex-militares, engenheiros de dados e psicólogos. O time trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, cuidando exclusivamente da proteção dos usuários.
O app usa tecnologia de ponta para focar especialmente em prevenção. Algumas das funcionalidades desenvolvidas: câmeras de segurança embarcadas nos veículos e conectadas diretamente com a central de monitoramento da companhia. As câmeras começaram a ser implementadas em setembro e se encontram em fase de testes e expansão. Inteligência artificial que monitora o perfil de todas as chamadas, identificando situações de risco e bloqueando o acesso à plataforma. Assim, o sistema pode prever incidentes antes que eles aconteçam. Mapeamento de áreas de risco que envia aos motoristas notificações sobre zonas perigosas.
O levantamento utiliza estatísticas internas da empresa e dados das secretarias da Segurança Pública.
Canal de atendimento exclusivo para incidentes de segurança: a assistência oferece auxílio imediato, que pode incluir o envio de um carro em ocorrências em que o veículo tenha sido levado, por exemplo. O aplicativo pede que todos os passageiros coloquem CPF ou cartão de crédito antes da primeira corrida. Todos os usuários estão protegidos em suas corridas: desde o aceite até a finalização das corridas, passageiros e motoristas são cobertos por um seguro contra acidentes pessoais de até R$ 100 mil."