
Há uma mudança na rotina dos moradores de Fortaleza e cidades próximas desde que começaram os ataques de facções criminosas, no dia 2 de janeiro de 2019. Uma espécie de toque de recolher informal foi estabelecido em alguns bairros da capital cearense, obrigando comerciantes a fecharem os estabelecimentos durante a tarde e trancando as pessoas em casa enquanto ainda há luz natural. A Força Nacional foi chamada para conter os atentados e o policiamento ganhou reforço de tropas dos Estados vizinhos.
Fortaleza convive com o terror há mais de uma semana. A chegada do secretário de Administração Penitenciária Luís Mauro Albuquerque, convidado pelo governador Camilo Santana (PT), motivou a violência. O policial prometeu adotar o estilo linha dura nos presídios do Ceará, como havia feito para conter os massacres e retomar o controle da prisão de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, gerando uma onda de violência em Natal.
Na capital cearense, a resposta dos líderes das facções criminosas foi mais severa: até esta terça-feira, mais de 150 ataques foram registrados em prédios (públicos e privados), empresas, ônibus e carros particulares. O mais recente foi a explosão de uma ponte, que teve estrutura danificada.

Em uma semana, 168 pessoas foram detidas. Segundo a PM cearense, 30% são adolescentes apreendidos. Para aumentar a fiscalização ostensiva, a Força Nacional tem 406 agentes atuando em Fortaleza e na região metropolitana. O governo da Bahia enviou 100 policiais para ajudar a conter a violência. Outros Estados também prometeram ajuda.
Em alguns bairros, as lojas fecharam as portas no meio da tarde desta terça-feira (8) após ameaças de ataques com coquetel molotov. E, se não há uma lei marcial ordenando toque de recolher, informalmente a população vive sob ameaça. O Sindicato Médico orientou os profissionais a não irem aos postos onde há possibilidade de ataque, deixando em saia justa a secretaria da saúde, que avisou que cortaria o ponto de quem faltasse.
Em meio a isso tudo, os moradores veem suas rotinas alteradas. O medo da violência fez a estudante Ana Kaline Diógenes correr para casa no meio da tarde. Ela passou apressada em frente à estação de ônibus Papicu, uma das maiores de Fortaleza, ao lado do também estudante Cleógenes Pinheiro.
— Estou em férias, queria aproveitar a praia, mas não podemos. Não saio mais de casa à noite também — disse Ana, que, apesar do medo e da situação, afirma apoiar a ação do novo secretário.
A empregada doméstica Maria Santos também passou pelo terminal rodoviário à tarde, após o expediente com horário alterado. Suspirou quando cruzou com a Força Nacional e com a polícia militar, que estavam em 10 agentes em frente à estação de Papicu:
— Não é boa nossa situação, mas ao menos a presença deles aumenta nossa sensação de segurança — resumiu.