O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rogério Galloro, confirmou, nesta sexta-feira (21), que uma equipe do órgão apura a suspeita de que uma organização criminosa estaria atuando para impedir que a Polícia Civil do Rio de Janeiro esclareça o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e seu motorista Anderson Gomes. Os agentes já receberam parte do material que os investigadores fluminenses reuniram ao tentar identificar os mandantes e os executores do crime.
Segundo Galloro, a Polícia Civil entregou, há cerca de uma semana, o material que a Polícia Federal solicitou no fim de novembro.
— Isso demorou um pouco. Tive que montar uma equipe às pressas, pegando policiais federais de alguns estados. Uma equipe fica aqui em Brasília, ajudando na análise de dados, e outra no Rio de Janeiro — disse o diretor-geral ao explicar a divisão da equipe.
Galloro disse que, mesmo se dedicando exclusivamente ao caso, os agentes federais levarão algum tempo para analisar as informações reunidas pela Polícia Civil ao longo dos últimos nove meses.
— São provas, indícios e depoimentos que a Polícia Civil coletou. É um volume (de informação) muito grande que temos que analisar para ver se se encaixa no objeto da nossa investigação, que não é o homicídio — acrescentou Galloro, reforçando que a PF só apura a possível obstrução às investigações.
A PF instaurou o inquérito para apurar supostos entraves à elucidação do crime no começo de novembro, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge — que, na mesma ocasião, pediu também que a PF dê proteção às famílias de testemunhas.
Aliança satânica
Galloro falou sobre o andamento das investigações esta manhã, em Brasília, durante a apresentação do balanço de ações do Ministério da Segurança Pública desde a criação, no fim de fevereiro. Presente ao evento, o ministro Raul Jungmann também comentou as investigações sobre o assassinato de Marielle e de Gomes, em 14 de março deste ano.
— Há um processo de investigação do que eu já chamei de um complô, uma aliança satânica entre corrupção e crime organizado. A PF está trabalhando (para apurar a suspeita de obstrução às investigações da Polícia Civil) e, a nosso ver, trabalhando muito bem, mas há apenas um mês. Confio na PF e estou certo de que ela vai fazer o trabalho que é preciso fazer no Rio de Janeiro — disse o ministro, lembrando que, nos meses subsequentes ao crime, por duas vezes o governo federal se ofereceu para assumir as investigações.
Jungmann disse que, nas duas vezes, a oferta de federalização foi recusada.
— Por isso, a Polícia Federal não tem nenhuma participação na tentativa de elucidação do caso. Porque não nos deixaram entrar neste processo.
Perguntado se confia na investigação da Polícia Civil, o ministro disse que espera que ela alcance os resultados esperados pela sociedade.
— Em 2017, eu dizia que o estado não sairá da situação em que se encontra, com comunidades controladas pelo crime organizado e com parte do Estado e de agentes públicos capturados pelo crime e pela corrupção, sem ajuda do governo federal. Já na época eu reivindiquei o apoio de uma força-tarefa. Hoje, conseguimos constituir isto. Por isto eu tenho tanta esperança que consigamos romper esta aliança entre crime organizado e corrupção — respondeu o ministro.