De frente para o mar, Nanci Adams, 60 anos, e Miguel dos Santos, 50 anos, compartilhavam a cuia de mate. A cena, que poderia ser observada da orla de Capão da Canoa, era acompanhada de uma sala na prefeitura. Desde junho, 180 câmeras monitoram pontos do município. Há seis anos, o casal deixou São Leopoldo, no Vale do Sinos, e escolheu o litoral para buscar qualidade de vida e tranquilidade. O monitoramento para prevenir crimes, na visão deles, ajuda.
– É local de movimento. A ideia é muito boa – avaliou Miguel.
– Quando tu sair para caminhar, vou lá ver onde anda – brincou com o marido Nanci, que também aprova a medida.
Perto dali, um grupo de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, demonstrou surpresa. Alertados pela reportagem, um a um viravam-se para mirar a câmera.
– Lá está – indicou Raquel Küster, 49 anos, ao localizar o equipamento.
Noeli Heck, 72 anos, ficou impressionada ao ver a imagem captada de dentro da sala.
– Mas olha, é a gente mesmo – observou, entre risos.
O comerciante Anderson Pietzark, 38 anos, celebra a medida como forma de prevenir crimes na padaria que mantém há 17 anos:
– Quanto mais câmeras, melhor. A rua fica mais segura.
Resposta mais rápida da polícia
Há sete anos, a maior parte das câmeras de vigilância instaladas em investimento de R$ 12,2 milhões do governo federal, por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, deteriora com a maresia no litoral gaúcho. Dos 178 equipamentos, estão em funcionamento 50 – 28% do total. As demais seguem desativadas. Em fevereiro de 2017, levantamento de ZH mostrou apenas 20 operando.
As câmeras foram colocadas em 23 cidades do litoral e em Rolante, no Vale do Paranhana. Das 24, somente sete mantêm equipamentos ativados: Arroio do Sal, Balneário Pinhal, Capão da Canoa, Capivari do Sul, Cidreira, Maquiné e Torres.
Em Capão da Canoa, foram investidos pela prefeitura R$ 2,5 milhões, a serem pagos em 60 meses. Por licitação, foi escolhida empresa para instalação e manutenção. As 15 câmeras antigas, de 2011, foram substituídas e as estruturas usadas para acoplar novas. Por conta da maresia, é preciso fazer limpeza diária dos equipamentos. Presidente da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), o prefeito Amauri Magnus Germano (PTB) pretende transformar Capão da Canoa em central regional.
– Passa mais segurança aos moradores e a quem vem para veraneio. Queremos que os municípios cresçam juntos – afirma.
Indicadores da Secretaria da Segurança Pública mostram que entre junho e outubro deste ano ocorreram 89 assaltos na cidade – 40% menos do que os 146 do ano passado. Delegado regional no Litoral Norte, Heraldo Chaves Guerreiro considera curto o período para avaliar a efetividade das câmeras, mas garante que têm auxiliado nas investigações:
– É uma ferramenta fantástica. Antes, os policiais saíam em busca de câmeras particulares e nem sempre encontravam vídeos de qualidade. Agora, contam com imagens de alta resolução.
Comandante da Brigada Militar (BM) no Litoral Norte, coronel Paulo Ricardo Garcia da Silveira diz que a criação de centrais, em Osório e Capão, para onde seriam espelhadas imagens dos municípios, agilizaria a resposta a chamados. Sobre a reclamação de prefeitos da falta de efetivo, diz que o monitoramento é forma de superar o problema:
– Nas centrais, estamos unindo BM, Polícia Civil, Guarda Municipal, bombeiros e outros órgãos. Com isso, ampliamos a participação na segurança.
Como funciona em Capão da Canoa
- Dentro do prédio da prefeitura, em sala de acesso restrito com senha, brigadianos da reserva e servidores municipais monitoram 24 horas por dia imagens captadas pelas câmeras.
- Os equipamentos estão espalhados por locais como orla, acessos principais, vias centrais com maior movimento comercial, praças, escolas e postos de saúde.
- Com capacidade de giro de 360 graus, as câmeras podem ter a direção alterada pelos operadores. É possível aproximar a imagem, selecionando quadro específico. Vídeos são armazenados por 60 dias.
- O software utilizado permite reconhecimento de placas, para identificar veículos furtados ou roubados. Na rodoviária, há reconhecimento facial. O programa é integrado com o serviço de segurança pública do Estado e pode ajudar a localizar desaparecidos ou foragidos.