Um PM da reserva foi indiciado pela Polícia Civil na investigação sobre o assassinato de Rafael Giovane Silveira da Silva, 26 anos, ocorrido no dia 27 de setembro , dentro do campus da PUCRS, em Porto Alegre. Apontado como autor do crime, o brigadiano foi indiciado por homicídio doloso (com intenção) qualificado por impossibilitar a defesa da vítima.
A investigação da 1ª Delegacia de Homicídios afirma que o policial mentiu em sua versão, quando se entregou, cinco dias após o assassinato. A versão dele é de que agiu em legítima defesa, após a vítima tentar retirar sua arma. Já para o delegado Rodrigo Reis, ele cometeu um assassinato a sangue frio, com a vítima rendida, sentada e desarmada.
— O Rafael foi executado. De acordo com as perícias de local de crime e necropsia, além das testemunhas que ouvimos, o Rafael se encontrava tranquilo, não esboçou nenhum tipo de reação. Estava sentado e ao redor dele estavam diversos vigilantes — explica o delegado, que entende ter ocorrido uma ação de violência desproporcional por parte do indiciado.
O motivo do crime, para a polícia, é uma ameaça feita pela vítima ao filho do autor do crime, que trabalha como vigilante da PUCRS. O pai estaria assustado com o fato de o rapaz ter sido supostamente ameaçado por Rafael no dia anterior. O jovem morto é suspeito de envolvimento com furtos dentro do campus, já conhecido dos seguranças.
Ouça a íntegra da entrevista do delegado Rodrigo Reis
O PM da reserva também atuava como vigilante da universidade, mas de maneira informal, segundo a polícia. Ele e outros policiais seriam contratados diretamente pelo chefe de vigilância da instituição para auxiliar em rondas e transportes de valores. O regimento interno da Brigada Militar permite que agentes atuem dessa forma após deixar suas funções da ativa.
A investigação aponta que no dia do crime, Rafael foi rendido por vigilantes, que já sabiam da ameaça aos seus colegas. Enquanto passavam perto do prédio 50, o PM da reserva apareceu e cometeu o crime mesmo com o jovem rendido e desarmado. Ao menos cinco tiros foram disparados — quatro atingiram Rafael, que morreu na hora. Houve correria entre alunos que estudavam naquele momento.
— Ao menos duas testemunhas nos deixaram explícitos o que motivou o fato. No dia anterior ao crime, a vítima esteve na PUC e entrou em conflito com vigilantes. Um deles era filho do autor do delito, que teria sido ameaçado diretamente pelo Rafael. Ele teria dito que se voltasse seria para "pegar" ele, algo nesse sentido — detalha o policial.
Segundo a polícia, o crime foi cometido em um ponto cego das 540 câmeras de vigilância instaladas na PUCRS . A polícia não sabe se o local do crime foi escolhido propositalmente ou uma casualidade. As imagens a que os agentes tiveram acesso mostram a abordagem e a correria após o crime, mas não o momento dos tiros.
O homem indiciado, que não teve o nome revelado, não será preso neste momento pela polícia. Reis alega que ele colaborou com a investigação, não possuía antecedentes e tem casa e emprego fixos.
A investigação, que reúne relatos de vigilantes, provas de perícia e câmeras de segurança, será levada nesta terça-feira ao Judiciário. O Ministério Público, então, deve se manifestar se oferecerá denúncia, ou não, e se concorda com os fatos apurados.
A PUCRS foi procurada pela reportagem para se posicionar novamente sobre o caso. A Universidade informou apenas que solicitou uma cópia integral do inquérito e vai se manifestar após ter ciência dos documentos.
Contraponto
O que diz Marcelo Marcante, advogado do PM da reserva indiciado:
“O meu cliente agiu em legítima defesa, o que será comprovado. Os elementos do inquérito apontam que a suposta vítima estava sob o efeito de cocaína, tinha ameaçado as pessoas que faziam a segurança no dia anterior, bem como retornado no dia dos fatos armado com uma barra de ferro. Ainda, tentou tirar a arma do meu cliente, oportunidade em que foi dado um disparo de advertência, que não impediu que a suposta vítima persistisse seu intento, o que ocasionou os demais disparos.”