O bancário Gilsomar Dartora, 32 anos, assistia televisão acompanhado da mulher em seu apartamento no Edifício Guamirim, no centro de Fontoura Xavier, no norte do RS, quando ouviu barulhos de vidros quebrando e batidas que pareciam marretadas. Ele correu até a sacada e não demorou muito para ter certeza do pior: criminosos explodiriam minutos depois o Banrisul que fica no térreo de seu prédio, na Avenida Nove de Julho, uma das principais vias do município.
O homem só teve tempo de voltar correndo, pedir para sua mulher ir até o quarto com ele e esperar poucos minutos até que começassem as explosões. Foram três, segundo ele, seguidas de rajadas de tiros para o alto e gritos de "rápido, rápido", que partiam dos bandidos.
— Só entrei e logo deu a explosão. Tremeu todo o prédio. Foi um susto bem grande — detalhou.
Foram cerca de 15 minutos de tensão desde que as primeiras batidas foram ouvidas por Dartora. Segundo ele, a primeira explosão ocorreu à 0h52min. A última, 12 minutos depois, à 1h04min. Só depois de ouvir o forte barulho de motores de carro e mais nenhuma voz de bandidos que ele conseguiu deixar o quarto com a mulher.
Dartora mora no quarto andar do prédio, que também abriga o consultório de um dentista eoutros cinco apartamentos. Até esta madrugada, gostava de viver no local, perto do trabalho, na agência do Sicredi, mas o episódio foi a gota d'água:
— A minha esposa tem medo. Ela só fala em se mudar. Parece que os prisioneiros somos nós, que não podemos sair de casa — lamenta.
Até o início da tarde desta quarta-feira (1º), segundo o bancário, nenhuma autoridade procurou os moradores para falar se as explosões prejudicaram a estrutura do prédio. Ele e a mulher continuam no local.
Na mesma avenida, vive o advogado Alexandre Chitollina, 46 anos. Ele e a mulher assistiam televisão quando ouviram as explosões.
— Peguei minha filha de dois anos e fui para o único lugar onde podia ter certeza que não seria atingido por tiro de grosso calibre — relatou.
Decidiram se esconder em um corredor e ligar para a mãe de Chitollina, que mora próximo ao local do crime, e pedir para que ela se protegesse. A idosa, conta o advogado, mora em uma casa de madeira e ele tinha medo de que um disparo pudesse perfurar a parede e atingi-la.
Parece que os prisioneiros somos nós, que não podemos sair de casa
GILSOMAR DARTORA
Morador de prédio explodido
Conforme o delegado João Paulo Abreu, da Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), os criminosos explodiram dois caixas eletrônicos e teriam conseguido levar o dinheiro de um deles. O cofre da agência bancária não foi atacado.
O carro usado pela quadrilha, um HB20, foi localizado abandonado no município de Ilópolis a cerca de 70 quilômetros de Fontoura Xavier, ainda na madrugada. A polícia apura se eram quatro ou cinco assaltantes.
Outro ataque a banco no Estado
A madrugada desta quarta-feira (1º) também teve uma explosão em uma agência do Banrisul em Erval Seco, também no Norte do Estado. Conforme a Polícia Civil, os criminosos arrombaram um terminal eletrônico e conseguiram pegar o dinheiro. O crime ocorreu por volta das 2h30min. Vários tiros foram disparados para amedrontar moradores, segundo a polícia.
A polícia também encontrou abandonado o carro usado pela quadrilha, um Ford Ka vermelho. O veículo estava na área rural do município.
Em uma primeira análise, a polícia acredita que duas quadrilhas diferentes agiram.
— Não acreditamos haver relação entre esses dois eventos (Fontoura Xavier e Erval Seco), ainda que a distância seja de 150 quilômetros e o horário seja possível. Não nos parece, por tudo que foi apurado até o momento, que haja relação — afirma o delegado Abreu.