No primeiro semestre, 43 fuzis foram apreendidos pela Brigada Militar e pela Polícia Civil no Rio Grande do Sul. Destes, 10 são do modelo AK-47, de origem russa, o mesmo utilizado por exércitos e guerrilhas. Por ser leve, resistente e amedrontar os adversários, o armamento acabou empregado por grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas.
Nove dos fuzis AK-47 foram descobertos em uma residência na cidade de Estrela, no Vale do Taquari, no fim de junho deste ano. Foram apreendidos, ao todo, 15 fuzis no local. O outro exemplar desse modelo foi encontrado com criminosos que tentavam escapar de uma abordagem policial em Sapucaia do Sul.
Considerando os demais modelos, a Polícia Civil localizou oito fuzis nos últimos seis meses. A Brigada Militar, por sua vez, apreendeu 20 neste período. Entre os fuzis apreendidos no Estado, também está o AR-15, de origem norte-americana.
O AK-47 leva em seu nome o A, de automático, o K, do sobrenome do inventor, Mikhail Kalashnikov, e o 47, que representa o ano em que começou a ser fabricado na antiga União Soviética. Nos Estados Unidos, esta arma pode ser adquirida por cerca de US$ 300. No Brasil, o fuzil AK-47 não pode ser adquirido por cidadãos. No mercado ilegal brasileiro, entretanto, pode ser vendido por até R$ 50 mil. O fuzil tem capacidade de disparar rajadas, semelhante a uma metralhadora.
Em outubro do ano passado, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, foram encontrados seis fuzis AK-47 entre os 15 que estavam escondidos no apartamento de um estudante universitário. Esse mesmo tipo de arma foi apreendido em setembro do ano passado em Cascavel, no Paraná, em um carro que seguia para Lajeado, também no Vale do Taquari. Auditores da Receita Federal suspeitaram do veículo e acabaram encontrando em um fundo falso do painel sete fuzis desmontados, entre eles quatro AK-47.
O titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado João Paulo de Abreu, considera preocupante a localização desse tipo de arma em poder de bandidos.
— A apreensão dessas armas automáticas e semiautomáticas preocupa bastante. Por vezes, elas são empregadas em conflitos entre os criminosos, mas também são utilizadas em ações violentas, como roubos a bancos — afirma.
O policial defende ainda que essas armas possam ser incorporadas pelas forças policiais. Parte do arsenal apreendido em Santa Cruz do Sul foi destinado à Polícia Civil.
— São armas passíveis de serem adotadas pelas polícias e sem custo para o Estado — argumenta.
Uma das mais utilizadas em combates
Um especialista em armas, que não quis se identificar, afirma que o AK-47 se tornou um dos instrumentos de combate preferidos pelos criminosos, inclusive de traficantes no Rio de Janeiro, por conta do peso, da praticidade e da resistência em diferentes terrenos.
— É uma das armas mais produzidas do planeta e está entre as mais utilizadas em combates. É extremamente leve e considerada a mais confiável. Você coloca na água, na terra, e ela funciona. Além de ser um fuzil muito prático. Em dois minutos de instrução, você vai saber operá-lo — explica.
Para o especialista, o emprego do AK-47 pelos criminosos também pode ser explicado pelo impacto psicológico, pois amedronta o inimigo. Ele destaca a capacidade que a arma tem de acertar alvos a longa distância.
— Enfrentar alguém que está com um AK-47, psicologicamente, é um problema. Além disso, ele tem capacidade de dar rajada. Não tem como ficar na frente de uma rajada de fuzil. Você tem que desistir do combate. Com um fuzil desses, você pode atirar a 600 metros. É uma arma de guerra — avalia.
Dos 23 fuzis apreendidos pela Polícia Civil, 18 eram de calibre 5.56mm. Para o especialista, o uso desse tipo de calibre se explica porque os criminosos tendem a repetir o mesmo tipo de armamento empregado pelas forças policiais.
— O 7.62mm é um calibre de guerra, usado há muitos anos. O 5.56mm começou a ser usado por ser mais leve e mais fácil de transportar. É uma munição que atravessa fácil qualquer colete e praticamente todas as blindagens que existem no Brasil. E cabe bastante munição no carregador, porque é menor. Mas dificilmente vai acertar mais alvos. A grande vantagem é que ele é menos letal. O bandido nem pensa nisso. Compra porque a polícia também usa — afirma.
A Brigada Militar não informou o modelo e calibre de todos os fuzis apreendidos.