A Polícia Civil de Santa Catarina prendeu preventivamente, na tarde desta segunda-feira (16), o oficial de cartório de registro Paulo Odilon Xisto Filho, 36 anos, acusado pelo Ministério Público de ter matado a namorada Isadora Viana Costa, 22 anos. A modelo, nascida e criada em Santa Maria, na Região Central, foi encontrada morta no apartamento de Paulo Odilon, no dia 8 de maio, em Imbituba, Santa Catarina. O suspeito, que é réu pelo crime e responde por homicídio duplamente qualificado e feminicídio, foi encaminhado para a Unidade Prisional de Imbituba.
A decisão pela prisão é assinada pelo juiz, Welton Rubenich, da 2ª Vara da Comarca de Imbituba. No despacho, ele cita o comportamento irregular do suspeito:
"Inicialmente, necessário consignar que esta é a terceira oportunidade, em pouco mais de um mês, em que se analisa a necessidade ou não da prisão preventiva do acusado Paulo Odilon Xisto Filho. Não pela reiteração pura e simples da Polícia Civil ou do Ministério Público, longe disso, mas sim pela conduta do acusado, que vem se mostrando sujeito descontrolado e incapaz de absorver as determinações deste juízo e de se manter longe da prática de crimes, colocando em risco manifesto a ordem pública e regular tramitação da instrução criminal", escreve.
O juiz pontuou que a decretação de prisão preventiva contra o oficial de cartório de registro "é medida que se impõe, pois a manutenção da sua liberdade põe em concreto risco a ordem pública e o bom andamento da instrução criminal".
O primeiro pedido de prisão preventiva foi negado pela Justiça em 3 de junho. Ao rejeitar a solicitação, foram determinadas medidas cautelares contra Paulo Odilon, como proibição de permanecer e frequentar bares, boates, festas, estabelecimentos similares e de fazer uso de bebida alcoólica ou qualquer tipo de droga ilícita.
Em 3 de julho, a Polícia Civil pediu pela segunda vez a prisão do réu, informando que ele estaria fazendo uso de álcool e de drogas ilícitas, além de proferir ameaças e ofensas contra o delegado responsável pelo inquérito e indiciamento. O acusado teria difamado e injuriado o delegado em um grupo de WhatsApp. Novamente, a Justiça negou o pedido de prisão, mas acatou busca e apreensão na residência de Paulo Odilon.
No dia 7 de julho, a polícia cumpriu o mandado no apartamento do acusado. No local, foram encontradas quatro garrafas de vinho vazias, uma garrafa de vinho pela metade, uma garrafa de vinho cheia, uma garrafa de cerveja long neck vazia, uma garrafa de cerveja long neck cheia e 10 comandas referentes ao período de 18/06/2018 a 05/07/2018, nas quais constam o consumo de 10 cervejas, quatro taças de vinho e cinco copos/taças quebrados.
Na ocasião, Paulo Odilon teria acusado o delegado de conduzir o inquérito "de ter plantado um prato contendo cocaína e três canudos em sua residência" (a data não foi informada no despacho).
No despacho judicial, também consta que interceptações telefônicas, de 12 a 26 de maio, indicaram episódios nos quais o acusado "teria feito uso excessivo de bebidas alcoólicas e, a partir disso, teria demonstrado comportamento agressivo, inclusive com seus familiares e com o delegado de polícia responsável pelas investigações".
"Exemplo deste comportamento teria ocorrido entre os dias 13 e 14 de maio, ocasião em que Paulo teria ido até a sacada do seu prédio e proferido aos gritos 'delegado filho da p*'".
Morte por motivo fútil
De acordo com a denúncia do Ministério Público (MP), acolhida pela Justiça, Paulo Odilon teria matado a modelo por motivo fútil. Acreditando que o namorado havia sofrido uma overdose, Isadora acionou a irmã dele. O oficial de cartório, então, revoltou-se, pois escondia da família que usava drogas. Ele então teria agredido a jovem, provocando a sua morte.
Exame do Instituto Médico Legal concluiu que a modelo foi vítima de um trauma abdominal entre 6h20min e 7h30min do dia 8 de maio. De acordo com o laudo, a lesão não estaria relacionada ao consumo de alguma substância, pequena queda ou eventuais manobras de reanimação cardíaca.
Na denúncia do MP, também consta como qualificador o uso de meio que dificultou a defesa da vítima, uma vez que o réu teria feito uso de força desproporcional ao atacá-la. O feminicídio é caracterizado pela violência doméstica e pelo fato de que Paulo Odilon e Isadora mantinham relação afetiva.
Paulo Odilon e uma amiga do casal foram responsabilizados também por fraude processual. Ambos teriam modificado a cena do crime, lavando lençóis e toalhas, retirando garrafas de bebidas alcoólicas do local, espalhando comprimidos de remédios controlados pela residência e inserindo cobertores e malas na cama na qual estava a vítima.
Na decisão desta segunda-feira, o juiz afirma que "a prisão também se mostra necessária para o acusado deixar de envolver terceiras pessoas em seus atos no afã de encobrir a verdade".
Contraponto
O que diz Paulo Odilon Xisto Filho
Os advogados do acusado informaram, por meio de nota, que consideram "desnecessária e descabida a prisão preventiva decretada, pois o acusado vem colaborando com a apuração dos fatos e nega veementemente a prática do crime imputado".
Leia a nota na íntegra:
A defesa de Paulo Odilon Xisto Filho vem esclarecer que considera desnecessária e descabida a prisão preventiva decretada, pois o acusado vem colaborando com a apuração dos fatos e nega veementemente a prática do crime imputado. Não houve violação das medidas cautelares impostas e a decisão está equivocada. Utilizaremos todos os meios processuais para reestabelecer a liberdade do acusado.
Aury Lopes Jr e Bruno Menezes