A Justiça Federal ouviu, nesta sexta-feira (20), três dos acusados pelo assassinato do médico Marco Antônio Becker. É a primeira vez que os acusados são ouvidos no Judiciário federal, mais de nove anos após o crime. Becker foi executado a tiros no dia 4 de dezembro de 2008, na Rua Ramiro Barcelos, bairro Floresta, em Porto Alegre.
O ex-andrologista Bayard Ollé Fischer Santos, apontado como mandante do crime pelo Ministério Público Federal (MPF), alegou motivos de saúde e não participou da audiência. Um novo interrogatório do médico, cassado em 2009, foi marcado para o dia 3 de agosto. O traficante Juraci Oliveira da Silva, o Jura, acusado de planejar o crime, também tinha depoimento marcado para hoje, mas pediu perícia em celulares antes de depor. Ainda não há informações sobre quando será o interrogatório.
Nesta sexta-feira (20) foram ouvidos o ex-assistente de Bayard Fischer, Moisés Gugel, acusado de intermediar negociações para matar Becker; Paulo Ricardo Machado, acusado de planejar o crime; e Anderson Roberto Farias Bones, denunciado por executar a vítima. Michael Noroaldo Garcia Câmara, que também teria ajudado na execução da vítima, esteve na audiência, mas não foi ouvido.
O médico Jorge Roberto Gioscia Filho, ex-colega de Bayard, e o pai de santo Júlio Henrique Marques serão ouvidos no dia 27. Eles são acusados de falso testemunho.
A demora no processo ocorre devido a mudança de competência. O processo começou na Justiça Estadual, mas uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) transferiu para a instância federal. O motivo é que a vítima era vice-presidente do Cremers, uma autarquia federal, e uma das suspeitas é de que sua atuação à frente do conselho teria motivado o assassinato. Com isso, o processo teve que começar do zero.
Relembre o caso:
- Na noite de 4 de dezembro de 2008, o oftalmologista e vice-presidente do Cremers Marco Antonio Becker foi morto a tiros dentro de seu carro depois de ser abordado por dois homens em uma moto na Rua Ramiro Barcelos, no bairro Floresta, na Capital.
- Em 11 de dezembro de 2009, a Polícia Civil indiciou o ex-andrologista Bayard Fischer dos Santos e mais quatro pessoas. Ele seria o mandante do crime. Becker teria sido o responsável pela cassação do diploma de médico de Bayard. O assessor de Bayard, Moises Gugel, foi acusado de intermediar o contato entre seu chefe e o traficante Juraci Oliveira da Silva, conhecido como Jura, que está preso por outros crimes. Jura seria o responsável por enviar os matadores de Becker.
- No dia 22 de dezembro do mesmo ano, a promotora Lúcia Helena de Lima Callegari encaminhou a denúncia à Justiça. Ela incluiu oito pessoas pelo assassinato na ação, três a mais do que o número de indiciados pela polícia.
- No dia 29 de dezembro de 2009, a Justiça aceitou a denúncia contra o ex-andrologista e outras 10 pessoas - das quais sete por participação no crime. Um dos réus, Fabiano Silva do Nascimento, o Fio, foi excluído da ação porque foi assassinado.
- Em maio de 2010, o traficante Jura foi preso no Paraguai.
- Em 2 de agosto de 2010, começaram os depoimentos da acusação no Caso Becker. Neste mesmo ano, o advogado de Gugel, Marcos Vinicius Barrios, entrou com habeas corpus no STJ. A alegação é de que o Cremers representa o Conselho Federal de Medicina. Por isso, como o motivo do crime seria a cassação do diploma de Bayard, segundo o Ministério Público Estadual, o processo deveria tramitar em âmbito federal.
- Em 14 de abril de 2011, foi determinada a libertação de Bayard, preso em 11 de fevereiro de 2010, e de outros cinco presos. Conforme a 2ª Câmara do Tribunal de Justiça, os réus ficaram mais de um ano presos e por isso podem responder pelos delitos em liberdade.
-Em 4 de setembro de 2012, o processo é repassado para a Justiça Federal.
- Em abril de 2017, a Justiça Federal começou a ouvir testemunhas do crime. Entre elas, o delegado Rodrigo Bozzeto, que conduziu a investigação na época - que resultou no indiciamento de cinco pessoas.