A ação de bandidos da Região Metropolitana de Porto Alegre para tomar pontos de tráfico em parte do Burgo e da comunidade do São Vicente, no complexo Jardelino Ramos, em Caxias do Sul, colocou muitas pessoas sem relação com a criminalidade na mira de fuzis e metralhadoras.
Na noite de sábado, um dos moradores percebeu que homens armados estavam circulando pelas ruas das comunidades e decidiu se refugiar dentro de casa. Da janela, viu amigos e conhecidos serem abordados numa espécie de blitz.
— Contei uns quinze caras armados, muito bem armados. Teve um senhor que conheço, que havia ido na frente de casa estender uma mochila no varal. Os bandidos apontaram as armas e mandaram ele deitar. Também vi uns dois pedreiros (usuários de crack) irem para a parede e serem revistados. Eles faziam que nem a polícia, só que não era a polícia — relata a testemunha.
Uma mulher, que pede para ter a identidade preservada, também havia ido de carro ao São Vicente para visitar conhecidos na noite de sábado. Ao ingressar na Rua dos Antúrios, foi parada numa barreira.
— Eram vários homens armados. Eles tinham roupas camufladas, escuras. Pensei que era da polícia, depois imaginei que fosse um assalto. Um deles olhou para mim e liberou. Disse que eles não estavam ali para roubar nada e que eu podia seguir em frente. Não pensei duas vezes e segui adiante por uma rua de trás e fui embora do bairro. Ali eu não volto mais — diz a mulher.
A maioria dos bandidos não usava capuzes ou máscaras, com exceção de dois homens, que seriam moradores de Caxias do Sul e não queriam ser reconhecidos por testemunhas.
Como o grupo permaneceu horas nos becos e vielas, alguns comparsas trouxeram lanches como xis. Na ânsia de identificar e encontrar traficantes rivais, os criminosos entraram na moradia de pessoas sem relação com a disputa.
Na noite de domingo, com as comunidades já dominadas pelos bandidos, alguns traficantes já estavam oferecendo drogas para usuários.
— Eles ofereciam drogas com preços tabelados. Eles disseram que o pino (de cocaína) custava R$ 20, o crack R$ 10 e a maconha R$ 5.
Na segunda-feira e na terça-feira, com a invasão já mais organizada, os traficantes optaram por organizar o controle por meio de olheiros com rádios comunicadores.
— Hoje (terça-feira), passei por três deles quando estava indo ao trabalho. Não eram caras aqui da nossa comunidade. Nunca vi nada disso na minha vida — conta outro morador do bairro.