A Justiça autorizou o envio de um ofício ao comando do 11º Batalhão de Polícia Militar para que a unidade apresente a transcrição da comunicação via rádio do dia 18 de agosto de 2017, entre 5h30min e 8h. O período compreende o horário em que os amigos Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima foram mortos a tiros por PMs fora de serviço na Avenida Sertório, na zona norte, enquanto voltavam de uma festa.
O pedido para o envio da transcrição das conversas foi feito pela própria defesa dos PMs acusados do crime, Samuel Curtinaz de Freitas e Ricardo Pedroso de Almeida. Os dois estão presos após a Polícia Civil investigar o caso e concluir que a versão deles não condizia com a verdade. Os policiais alegavam que haviam sido assaltados, no entanto, a investigação da 2ª Delegacia de Homicídios não conseguiu confirmar essa versão. A polícia diz que nenhuma prova mostra as vítimas anunciando o suposto assalto aos PMs à paisana.
De acordo com o advogado dos PMs, Ricardo Cantergi, o objetivo é mostrar que os seus clientes são inocentes e “esclarecer a verdade”. O comandante do 11º BPM, major Douglas Soares, diz que não irá se manifestar novamente sobre o caso, e o que ele tinha para dizer está no Inquérito Policial Militar entregue pela unidade à Justiça – no qual o oficial indiciou seus soldados por homicídio.
O processo segue em tramitação na Justiça e tem audiência marcada para a manhã do dia 9 de maio. Ao todo, 27 testemunhas foram arroladas pela defesa dos PMs para serem ouvidas na Justiça.
Em janeiro, o juiz Orlando Faccini Neto, da 1ª Vara de Execuções Criminais, negou a liberdade dos policiais. O magistrado alegou na época que a prisão ainda era necessária para garantia da ordem pública e para evitar novos delitos.
Relembre o caso
O crime ocorreu no dia 18 de agosto, na Avenida Sertório. Os amigos Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima, ambos de 40 anos e sem antecedentes criminais graves, voltavam para casa em um Golf quando foram mortos. Os PMs – que estavam em um Toyota Corolla blindado – contaram que também saíam de uma festa quando as vítimas se aproximaram, de carro, e anunciaram um roubo. Por isso, os policiais teriam reagido.
No entanto, a investigação da 2ª Delegacia de Homicídios não conseguiu confirmar essa versão. A delegada Roberta Bertoldo garantiu à época que nenhuma prova mostrava as vítimas anunciando o suposto assalto aos PMs à paisana.
Laudos periciais confirmaram 26 perfurações no carro das vítimas. Já o veículo dos soldados tinha marcas de três impactos. Outro laudo alerta para o grande número de disparos que atingiu as vítimas. Lima levou cinco tiros, sendo quatro pelas costas. Juliano também foi atingido por cinco, todos pela frente.
Além disso, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) também elaborou um laudo residuográfico para confirmar se havia indicativos de que algum tiro tivesse partido das duas vítimas. Os peritos não encontraram nenhum indício de que os amigos tenham usado armas.