O chefe da Polícia Civil gaúcha, Emerson Wendt, convocou uma reunião para a tarde desta segunda-feira (8) para avaliar a "técnica policial" utilizada pelo delegado Moacir Fermino no inquérito que apura a morte de duas crianças, encontradas esquartejadas em Novo Hamburgo. Para o chefe da investigação, os irmãos foram mortos durante um ritual satânico.
Na manhã desta segunda, Fermino convocou uma coletiva de imprensa e anunciou que sete pessoas teriam envolvimento no crime - dessas quatro já foram presas. Ainda durante a manhã, o policial afirmou ao programa Timelime da Rádio Gaúcha que teve uma "revelação de Deus" e que profetas teriam indicado os caminhos para a investigação, inclusive apontando quem ele deveria ouvir.
Ao GaúchaZH, Wendt afirmou que esse tipo de "ajuda" não é comum em investigações.
— Não são efetivos dentro da técnica de imparcialidade necessária para uma investigação — observou o chefe da polícia — A necessidade agora é que se faça avaliação técnica policial do inquérito — concluiu.
A reunião desta tarde vai contar com a participação do delegado regional Rosalino Seara e com o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, delegado Fábio Motta Lopes. Os dois são superiores a Fermino, que está respondendo pela Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo nas férias do colega Rogério Baggio.
Declarações "infelizes", diz promotora de Justiça
Para uma promotora de Justiça, que prefere não se identificar, as declarações foram "infelizes".
— Acredito que o delegado tenha se embasado em outros elementos, até mesmo para conseguir na Justiça as prisões preventivas. Nenhum juiz se manifestaria se não tivesse elementos suficientes. Certamente ele tinha outros detalhes mas não queria abrir para a imprensa.
O presidente da Associação dos Criminalistas do Estado do Rio Grande do Sul (Acriergs), César Peres, diz ter ficado "estarrecido" com as declarações.
— É inaceitável um agente público, um delegado de polícia, para indiciar alguém, fazer qualquer juízo de valor a qualquer cidadão, baseado em elementos subjetivos, em crenças, em elementos que não sejam investigados em inquérito.
Para Peres, a situação lembra a antiguidade.
— Isso é coisa da Idade Média, quando se fazia juízo de valor a partir de crendices. Tenho certeza que se é só isso que ele tem (como provas), não tem nada.