O megatraficante "brasiguaio" Jarvis Chimenes Pavão - brasileiro que vive há décadas no Paraguai e tem filhos paraguaios - acaba de ser extraditado do Paraguai para o Brasil. Ele é suspeito de ordenar dezenas de homicídios na fronteira entre os dois países e está condenado em vários processos por tráfico de drogas e armas. É apontado como o maior fornecedor de cocaína e maconha para facções gaúchas e para a maior organização criminal brasileira, a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
Pavão é natural de Ponta Porã (MS), fronteira com o Paraguai, mas tem mulher e filhos em território paraguaio. Como já cumpriu sua pena no país vizinho, agora tem de pagar pelos crimes pelos quais está condenado no Brasil.
A extradição foi feita um dia após Pavão terminar de cumprir pena de oito anos de prisão por lavagem de dinheiro, tráfico e organização criminosa em território paraguaio. Ele cumprirá uma condenação de 17 anos e oito meses de prisão por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e organização criminosa em Balneário Camboriú (SC), onde morava antes de se refugiar no Paraguai.
Advogados de Pavão recorreram à Corte Suprema do Paraguai pedindo a inconstitucionalidade da lei de extradição entre países do Mercosul. A principal advogada de Pavão, Laura Casuso, disse que o traficante corre sério risco de ser morto em uma prisão brasileira. Ela culpa o atual presidente do Paraguai, Horacio Cartes, por qualquer problema com seu cliente. "Se lhe ocorrer alguma coisa, o único culpado será Horacio Cartes", declarou, ao jornal paraguaio ABC Color.
Um jato da Polícia Federal brasileira foi levado a Assunção para buscar o traficante. Pavão foi vestido com colete à prova de balas e capacete de aço, por temor de que sofresse um atentado. A extradição foi consumada na manhã desta quinta-feira (28). Ele deve aguardar um tempo em Brasília, até ser transferido para uma penitenciária federal.
Pavão estava preso desde julho do ano passado na sede da Agrupación Especializada, um grupo de elite da Polícia Nacional paraguaia, em Assunção. Nos últimos meses o governo paraguaio reforçou a segurança na unidade, temendo uma tentativa de resgate. Laura Casuso disse que Pavão nunca fugiria e chamou os supostos planos de resgate de "circo armado" pelo governo de Horacio Cartes.
Pavão está denunciado no Paraguai por complô para assassinar seu maior rival no narcotráfico, Jorge Rafael Rafaat, que foi morto em julho de 2016 em Pedro Juan Caballero (cidade paraguaia contígua à brasileira Ponta Porã). Rafaat e dois de seus guarda-costas foram executados com tiros de metralhadora antiaérea calibre .50.
Com a morte do rival, Pavão teria consolidado virtual monopólio do fornecimento de drogas para as principais facções do Sul e Sudeste brasileiros.
O bando liderado por Pavão foi alvo, nesta década, de quatro operações da Polícia Federal. A última foi em agosto e resultou na apreensão de 4,6 toneladas de cocaína e maconha. Parte da rota passava por Veranópolis e Caxias do Sul, na serra gaúcha.
Em agosto de 2016, a Operação Argus desarticulou o transporte de 400 quilos de cocaína por mês trazidos do Paraguai para o Rio Grande do Sul. Sítios no município de Viamão eram usados como depósito da droga, transportada em caminhões carregados de vários produtos, como soja e eletrodomésticos. Conforme a PF, motoristas eram contratados por um empresário gaúcho que chefiava a quadrilha de transporte de drogas. Como disfarce, os veículos eram revendidos após serem usados duas ou três viagens dessas.
Pavão mantinha controle dessas operações desde uma luxuosa cela no presídio de Tacumbú, na capital paraguaia. O cárcere estava mobiliado de acordo com o gosto do traficante: tinha TV, closet para roupas, esteira para exercícios e cama de casal, além de estantes para livros, feitas sob encomenda. O local foi desativado em 2016, e o traficante, removido para uma unidade de elite do Senad (Serviço Antidrogas paraguaio).