Apontado pela Polícia Civil como o principal líder de uma das mais violentas facções criminosas do Rio Grande do Sul, Luís Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta, 37 anos, integrará nos próximos dias a lista de procurados internacionalmente. Ele será o 21º gaúcho nessa condição, ao menos publicamente, porque a polícia internacional (Interpol) mantém também mandados em sigilo. O Rio Grande do Sul é o Estado que mais tem brasileiros incluídos na lista vermelha pública. São 20 entre 99 nomes nacionais.
As últimas informações colhidas pela polícia com relação a Júnior Perneta dão conta de que ele estaria no Paraguai. O criminoso é considerado o último nome forte entre os alvos da Operação Pulso Firme, que transferiu 27 líderes de facções de presídios gaúchos para prisões federais, ainda solto.
O caso de Júnior Perneta faz parte do cerco das autoridades de segurança às facções criminosas da Região Metropolitana, mas esta não é a regra na lista internacional. Entre os gaúchos, pelo menos 14 casos são de crimes cometidos na região de fronteira com Uruguai e Argentina.
— É uma questão cultural, pela facilidade de tráfego de pessoas de um lado a outro na fronteira seca, mas também resultado da estrutura criada nesta região do Estado. As autoridades estaduais e federais estão muito alinhadas, e aí, os processos de inclusão na lista vermelha acabam sendo agilizados — explica o diretor da Polícia Federal (PF) no Rio Grande do Sul, delegado Farnei Franco Siqueira.
Há sete delegacias da PF na área de fronteira gaúcha. É o Estado com maior volume de estruturas desse tipo entre os que têm área de fronteira. Não é à toa que o Rio Grande do Sul concentre o segundo maior número de pedidos de extradição, quando a Justiça local pede o envio de presos seus no Exterior para o Brasil. Este ano foram sete casos, e outros cinco em vias de acontecer, atrás somente de São Paulo.
— Para inclusão e divulgação de um nome na lista vermelha, é preciso seguir principalmente três critérios: o indício de que o suspeito está fora do país, indicando as pistas e o possível paradeiro, a periculosidade do criminoso, do crime por ele cometido, e o interesse público — explica a representante da Interpol em Porto Alegre, a agente da Polícia Federal, Andréia Vaz de Castro.
Por isso, a lista não é composta, necessariamente, por criminosos notórios no país. Nela, estão casos como o de Tiago Machado Leite, denunciado por um homicídio em 2005, em Bagé. No processo, é reforçada a possibilidade de que ele estaria trabalhando no Uruguai. Ele ainda não foi localizado.
O compromisso do país que prende algum foragido que conste na lista é comunicar ao de origem. E aí há um prazo para que a Justiça solicite ao outro país a abertura do processo de extradição para que o criminoso cumpra a sua pena no Brasil.
Inclusão dá segurança jurídica, diz delegado
No caso de Júnior Perneta, o pedido para inclusão do criminoso na lista internacional foi solicitado há cerca de dois meses pela Delegacia de Capturas, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Depois de formalizado pela Justiça gaúcha, foi encaminhado pela representação da Interpol no RS ao comando da instituição, em Lyon, na França. Agora, só aguarda o final dos trâmites burocráticos entre o comando da Interpol e o governo brasileiro.
— É um procedimento que naturalmente demora, pela burocracia do processo. A inclusão é uma segurança jurídica que temos, caso ele seja preso no Exterior. Estamos no encalço deste criminoso — assegura o delegado Arthur Raldi.
Na lista internacional, apenas uma gaúcha não é procurada pela própria polícia daqui. É o caso de Silvana Seidler, 51 anos, natural de Capão da Canoa. Há quase dois anos ela é procurada pela Delegacia da Criança, do Adolescente e de Proteção à Mulher e ao Idoso, de Tubarão, Santa Catarina, apontada como autora do assassinato da própria filha, Carol Seidler Calegari, de sete anos.
Em dezembro de 2015, Silvana registrou o desaparecimento da menina na delegacia, acompanhada do pai da criança, e depois não foi mais vista. Os policiais suspeitaram da atitude da mãe e, durante buscas na casa dela, encontraram Carol morta. O corpo havia sido deixado dentro de uma caixa de papelão, coberta com peças de roupa e com sinais de asfixia. A descoberta aconteceu em um cômodo mantido fechado pela mãe.
Para inclusão e divulgação de um nome na lista vermelha, é preciso seguir principalmente três critérios: o indício de que o suspeito está fora do país, indicando as pistas e o possível paradeiro, a periculosidade do criminoso, do crime por ele cometido, e o interesse público
Andréia Vaz de Castro
Representante da Interpol em Porto Alegre
Traficantes internacionais
Outro nome que em breve deve figurar entre os procurados na lista vermelha da Interpol é o do mexicano Manuel Alfonso, apontado pela Polícia Federal como o elo no Rio Grande do Sul de uma organização criminosa que enviava cocaína para a Europa a partir dos portos de Santa Catarina e, possivelmente, de Rio Grande. O mexicano teria desenvolvido, e ensinado a comparsas gaúchos, uma técnica para camuflar a droga dentro de peças de granito para exportação. O grupo foi alvo da Operação Oceano Branco, no dia 10 de outubro.
O tráfico internacional na região de Uruguaiana, supostamente relacionado ao PCC, é a causa para que dois gaúchos estejam na lista vermelha da Interpol. É o caso de Edison Fernando Alves Dzwieleski, 38 anos, que chegou a ser preso em uma estância, na Argentina, com 340 quilos de cocaína, em 2013. Esta foi a quarta vez que Dzwieleski foi preso desde 2011. Conforme os investigadores da Polícia Civil na fronteira, o criminoso é considerado integrante da facção que se originou em São Paulo.
Outra procurada provavelmente relacionada às rotas da droga da facção é Mara Luciana dos Santos Perez, 41 anos. Natural de Uruguaiana, ela era um dos alvos da Operação Plano Alto, da Polícia Federal, que apurou o carregamento de cocaína nas cargas de caminhões de madeira em Alegrete, com destino a São Paulo. A operação apreendeu em torno de 900 quilos de cocaína, no ano passado. A droga seria trazida da Bolívia de avião, via Paraguai, até os carregamentos.