O município de Charrua, no Norte do Estado, suspendeu novamente as aulas na rede municipal de ensino, nesta segunda-feira (18), após o acirramento de conflitos entre indígenas da tribo Caingangue nos últimos dias. Conforme a Polícia Federal, desde agosto está em curso uma disputa pelo comando da Reserva do Ligeiro, que tem 1,4 mil moradores e fica próxima do centro do município. O embate já causou o incêndio de pelo menos 64 casas.
As aulas já haviam sido suspensas em 5 de setembro, mas voltaram após as brigas na reserva diminuírem. No entanto, a situação se agravou na noite de domingo (17) após o assassinato de um indígena que estava em um abrigo na área urbana do município. Ele havia buscado refúgio junto com outros cerca de 400 índios após ter sido expulso da aldeia pelo grupo que comanda o local. A PF considera que a morte dele tenha relação com as disputas.
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Além da escola que fica dentro da reserva, outras três instituições do município na área urbana e uma estadual não recebem os alunos. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o transporte de alunos também foi suspenso.
Conforme o delegado da PF Mauro Vinicius Soares de Moraes, o motivo dos conflitos é financeiro. Ele explica que grupos rivais tentam impor um novo cacique para poder arrendar terras para outras pessoas e ficar com o dinheiro.
— Antigamente o arrendamento era crime, hoje não é mais. Então o que acontece nas áreas indígenas do Norte do Estado é que o cacique determina para quem será arrendada a terra e o grupo dele fica com o dinheiro, enquanto os demais passam fome — explica o delegado, lembrando que a área possui cerca de 4,5 mil hectares.
Moraes lembra, também, que brigas pelo comando das aldeias tendo como pano de fundo o poder de arrendamento das terras são comuns nas 29 áreas indígenas do Norte do Estado.
Policiamento reforçado
Na última semana, uma operação com cerca de 130 policiais federais e militares foi deflagrada para prender os envolvidos no conflito. Cinco pessoas foram presas e outras quatro conseguiram escapar, sendo agora consideradas foragidas. Uma equipe de investigadores da PF acompanha a situação no local nesta segunda.
A Brigada Militar também enviou reforço de viaturas ao município de Charrua. Viaturas e policiais de Erechim foram deslocados e passarão o dia acompanhando os conflitos na cidade.
Veja a nota da prefeitura de Charrua
Para garantir a segurança da comunidade escolar, novamente a Prefeitura Municipal de Charrua informa que as aulas na Rede Municipal de Ensino das Escolas Osvaldo Cruz, Carmelina Baseggio e Dentinho de Leite estão suspensas por tempo indeterminado, a partir de amanhã, segunda-feira, dia 18 de setembro.
A medida foi tomada neste domingo (17), diante do agravamento das tensões entre os indígenas e a situação de insegurança que o município se encontra.