Um filho de 14 anos, um casamento de 17 anos, sobrinhos apegados ao tio e o sonho de trabalhar com gastronomia deram lugar à perplexidade, às lágrimas e ao sofrimento de uma família que está revoltada com a morte de Rafael Gardini Gomes. O motorista de 35 anos foi vítima de latrocínio (roubo com morte) na sexta-feira (1º), no bairro Passo d'Areia, em Porto Alegre.
Muito abalada, a mulher de Rafael, a dona de casa Natália Domingues, 32 anos, contou que o casal trocava mensagens diariamente, de hora em hora pelo WhatsApp.
– Nosso último contato foi às 15h44min, quando ele disse que ficaria na Região da (Avenida) Assis Brasil para tentar pegar mais passageiros – conta.
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Atuando há oito meses no aplicativo de transporte Uber, Gomes deixou o táxi, no qual trabalhava desde setembro de 2012, de forma contrariada.
– O sonho dele era trabalhar com gastronomia. Ele fazia muito bem bolos e doces decorados para os familiares e amigos. Foi para o Uber por necessidade financeira. Ali ele teria um retorno (financeiro) rápido – afirma a cunhada de Gomes, Juliete Fontoura, 28 anos.
A informação do latrocínio chegou para parte da família após as 18h, enquanto escutavam o noticiário no rádio.
– Como responsável financeira pelo veículo alugado, minha irmã recebeu a notícia da morte as 17h15min por um telefonema da Brigada Militar, mas quando conseguiu vir para nos avisar, meu padrasto já havia ouvido a notícia pelo rádio – emociona-se.
Para a cunhada de Gomes, é pouco provável que ele tenha reagido ao assalto, já que enquanto trabalhava no táxi, foi assaltado duas vezes.
– Sempre conversávamos sobre isso e ele mesmo falava que não se devia tentar qualquer reação no momento de um assalto. Como alguém usando cinto de segurança pode reagir a um tiro dado por trás? – questiona.
Natália afirmou que acompanhará de forma direta o caso na segunda-feira (4).
– Soube que a polícia acionou a empresa na Justiça para que eles (a Uber) forneçam os dados da corrida para eles. Achei estranho que, logo após a morte dele, o cadastro foi bloqueado. Muitas vezes acessávamos juntos pelo nosso e-mail e não consegui mais – relata.
O sepultamento de Rafael Gardini Gomes ocorreu na manhã de sábado (2), no cemitério João XXIII, em Porto Alegre. Além da mulher e um filho, Gomes deixa o pai e dois irmãos, que moram em Gravataí.
Revoltada e abalada, a cunhada de Gomes ainda não conseguiu contar o que ocorreu para os dois filhos de nove e quatro anos.
– Eles eram muito apegados ao tio, inclusive ele levava a sobrinha todo o dia para a escola. Não era só cunhado, ele era mais que um irmão, uma pessoa que não tenho palavras para descrever de tão boa. Essas pessoas vão ficar impunes graças as nossas leis? – emocionou-se Natália.