— Corta!
A autorização do inspetor André Travassos, 45 anos, aos colegas do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) para que arrebentassem a lataria de um Strada, apreendido com traficantes que traziam drogas para o Estado, tinha a confiança que só quem realmente conhece o faro do seu companheiro de trabalho poderia ter. Os agentes cortaram e descobriram 12 quilos de cocaína escondidos no compartimento imperceptível aos humanos.
Quem havia apontado a droga naquele local inusitado era Califa, o cão farejador da raça pastor belga malinois. para o inspetor, e adestrador, uma das missões mais marcantes da carreira do Califa.
— Não tinha praticamente como detectar o cheiro da droga, mas ele entrou no carro e, naquele ponto, alterou o comportamento. Tive uma prova da confiança que desenvolvi ao longo de tanto tempo ao lado dele naquele momento. Imagina, se não tivesse droga ali, eu teria de ressarcir o carro — conta Travassos.
Nesta terça-feira (26), se encerraram os sete anos em que o Califa foi um dos fieis escudeiros nas operações contra o tráfico de drogas em todo o Rio Grande do Sul. Ele e a fêmea, Dana, da raça labrador — esta, fiel companheira do inspetor e adestrador André Vizeu, 42 anos —, que foram treinados no mesmo período, aposentaram-se "por tempo de serviço policial".
Dana, com nove anos, e Califa, com oito, eram até agora os dois cães mais velhos do Núcleo de Operações com Cães, do Denarc. Atualmente, são seis animais a serviço do departamento — quatro deles em treinamento, que leva até um ano.
Desde 2013, quando o núcleo passou a computar as missões em que os cachorros foram acionados, foram 548 operações. Uma impressionante média de uma ação a cada três dias, que vão além do Denarc. O canil presta apoio em qualquer canto do Estado.
— Sei que ela vai estar na minha casa todos os dias, porque eu vou adotar a Dana, mas é muito diferente. Não vou mais ter ela no dia a dia do nosso trabalho. Vai ser difícil, mas ela merece esse descanso — emociona-se Vizeu.
Das lembranças de missões da labradora, o inspetor contabiliza a quilometragem percorrida com a viatura especial para transportar os animais. E há, claro, os casos em que o mérito da Dana foi fundamental para garantir sucesso a operações policiais.
— Estávamos fazendo buscas em um casebre na Vila Nova e os agentes já tinham esgotado todas as possibilidades. Foi quando a Dana entrou em ação e raspou uma das paredes, era falsa. Atrás, tinha uma espingarda escondida. Achei estranho ela encontrar uma arma, mas aí comprovamos que drogas haviam sido manuseadas ali e depois os criminosos manusearam a arma. Ela detectou — conta o adestrador.
Minutos depois, a farejadora achou o esconderijo da droga debaixo do assoalho do banheiro.
Provas irrefutáveis
A aposta da Polícia Civil no trabalho dos cães farejadores se explica pela técnica para garantir sucesso na parte operacional das investigações.
— A prova coletada pelo animal é irrefutável na Justiça, porque não há julgamento nenhum. Os cães são treinados para detectar os sinais de drogas. Quando detectam, não há contestação. Em praticamente todas as nossas grandes operações dos últimos anos, essa dupla esteve presente — valoriza o diretor de investigações do Denarc, delegado Mario Souza.
São como agentes complementares aos policiais. Pudera. A capacidade olfativa dos cachorros é até mil vezes superior à humana.
Entre essas ações bem sucedidas com os dois "veteranos" do canil, estão, por exemplo, as buscas às casas descobertas na investigação por lavagem de dinheiro contra o traficante Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição. Ou ainda nos cumprimentos de mandados da Operação Mensageiro, que tinha como principal alvo o traficante Juliano Biron, considerado pela polícia um dos principais financiadores do tráfico de drogas da Região Metropolitana e atualmente em uma penitenciária federal.