Um ano depois do tiro que matou Cristine Fonseca Fagundes, a reportagem percorreu novamente todo o trajeto feito pelos bandidos antes de atacá-la em frente à escola do filho. Conforme o processo que já condenou os três autores do crime, eles fizeram uma verdadeira maratona de roubos por quatro bairros da zona norte de Porto Alegre. Antes de abordarem o Fit em que a mãe estava acompanhada da filha de 16 anos, o trio roubou nove pessoas no intervalo de 50 minutos a partir das 17h.
No vídeo, acompanhe a rota dos criminosos e como está a região hoje:
Durante os mais de oito quilômetros deste trajeto, no mesmo horário dos ataques, nenhuma viatura foi localizada. Caminho aberto para ladrões? Não necessariamente.
Todos os roubos que o trio cometeu naquela ocasião ocorreram na área do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e, nos últimos 12 meses, aconteceram três latrocínios nessa região – 12% do total da cidade. No ano anterior, foram 10 casos – 29%.
Na Praça Leonardo Macedônia, no bairro Boa Vista, por exemplo, desde aquele dia, o contato entre os frequentadores e a Brigada Militar (BM) foi afinado. Um grupo de WhatsApp usado como alerta conta com 250 membros.
– Qualquer suspeita, ou pessoa que não é conhecida aqui da praça, é avisada por ali. Prontamente aparece uma viatura e os suspeitos são revistados e identificados. Melhorou muito a situação – elogia uma moradora.
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Ali, depois de levarem um Pálio vermelho da Rua Veranópolis, no bairro Passo d'Areia, os criminosos atravessaram a Avenida Plínio Brasil Milano e roubaram um casal que tomava chimarrão. Na sequência, atacaram outro casal, levando os pertences de um homem.
– Foi uma correria. O rapaz armado nem escolhia quem atacar. Simplesmente, arrancava o que via pela frente. Não era uma situação fora do comum, porque os mesmos assaltantes já vinham roubando direto aqui na praça – relata a aposentada Mara Helena Schmitt, 69 anos.
Em outro ponto, na Rua Cerro Azul, bairro Santa Maria Goretti, os alunos do Colégio Júlio Grau ainda sofrem com a ação de criminosos. Um ano atrás, o celular de um estudante foi levado. O assaltante já havia roubado a mesma vítima anteriormente. Era a terceira parada da série de ataque que resultou na morte de Cristine. Na semana passada, foram roubados pelo menos quatro telefones de alunos que saíram fora do horário tradicional.
– Na hora da entrada e saída, tem policiais aqui. Eles colocaram reforço. Mas é só uma turma sair um pouco antes ou depois, que a gente já sabe que está arriscado. O negócio é sair sempre em grupos grandes – relata um estudante de 16 anos, do 1º ano do Ensino Médio.
Ampliação de estacionamento trouxe tranquilidade aos pais
Em frente ao Colégio Dom Bosco, hoje os criminosos provavelmente já não encontrariam o mesmo "terreno fértil". Praticamente não há mais carros estacionados do lado de fora da escola à espera dos estudantes. A partir da reivindicação dos pais, a direção praticamente dobrou o número de vagas – criou cem novos lugares – no estacionamento interno, com amplo espaço para embarque e desembarque.
Para o médico Mario Casales Schorr, 40 anos, que não abre mão de buscar a filha a pé pela Alameda Raimundo Corrêa, no bairro Boa Vista, onde um ano atrás os criminosos roubaram a bolsa com o celular de uma pedestre, enclausurar-se é pior.
– Não mudo meus hábitos, e lamento muito o crescimento dos shoppings e de espaços que fazem as pessoas abrirem mão das ruas. Se nós não ocupamos esse espaço, o medo cresce – avalia.
A série de crimes do dia 25 de agosto de 2016 terminou na Rua Atanásio Belmonte, também no bairro Boa Vista, onde o dono do Pálio foi liberado pelos bandidos. Na Rua Veranópolis, dentro da Vila Iapi, onde ele foi roubado, o hábito dos moradores não mudou. Boa parte estaciona o carro na rua e a maioria já sofreu algum roubo, mas a situação melhorou.
– Acalmou muito. Colocaram policiais aqui na esquina por um tempo. Mas é claro que temos que tomar precauções sempre – relata o aposentado João Francisco Trindade, 62 anos.
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