Quando 164 detentos completam seis dias ocupando um pátio no Presídio Central de Porto Alegre, depois de terem sido expulsos por líderes de uma facção criminosa da 2ª Galeria do Pavilhão A, a socióloga Julita Lemgruber, uma das maiores especialistas no tema no Brasil, classifica o caso como mais um capítulo a confirmar a situação limite deste presídio.
– A única solução imedia possível para reagir ao estado em que as coisas chegaram é o Estado mostrar aos delinquentes que está, sim, presente. E que quer estar presente. No caso do Presídio Central, o gestor público deveria inundá-lo com profissionais de saúde, educação, psicólogos, assistentes jurídicos e sociais, com acesso a todos os presos. Só assim você desmancha o poder que as facções exercem naquela estrutura – avalia a socióloga.
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A longo prazo, Julita acredita que a criação de novas vagas em presídios que sigam modelos adequados de ocupação é o ideal.
– Foi o descaso histórico do poder público que provocou tudo isso. Diversos governos já prometeram derrubar o Presídio Central e não cumpriram. Criou-se um frágil equilíbrio de poder entre facções, com a anuência do Estado. Quando um grupo começa a desequilibrar a balança, derruba o sistema. Porque ele está baseado na relação de forças do crime, não no controle do Estado – critica a especialista.
No começo da tarde desta quarta-feira (30), a direção do Presídio Central volta a se reunir com a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe)em busca de vagas para os 164 detentos em outras penitenciárias. Uma possível realocação deles em outras galerias do próprio Central é praticamente impossível. Eles fazem parte de uma quadrilha originária da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, e teriam desafetos em outras facções criminosas. Atualmente, os grupos dominam 91% das galerias do Presídio Central.