O reforço do policiamento nas ruas freou não somente os latrocínios mas, segundo o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo, foi também fundamental para iniciar queda nos índices desse tipo de crime na cidade. Nos 12 meses que se seguiram desde a morte de Cristine, houve redução de 4,8% nos homicídios na Capital. Baixa que se acentuou a partir de abril até este mês, com retração de 32,7% em relação aos mesmos cinco meses de 2016.
A ampliação no patrulhamento aumenta também o número de prisões de homicidas. Neste ano, 533 pessoas foram detidas – 74% seguem atrás das grades – em razão desse tipo de delito em Porto Alegre. É o mesmo número de todo o ano passado.
– O reforço do policiamento tem contribuição importante justamente pela característica dos homicídios na Capital. São facções rivais, com territórios já mapeados. Quando aumentam as abordagens, diminui a possibilidade deles executarem seus planos e de fazerem vítimas pessoas que nada têm a ver com os conflitos – avalia o delegado.
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Lideranças de facções afastadas do Estado
Na parte investigativa, desde o final do ano passado 25 agentes e um delegado da Força Nacional atuam junto aos policiais gaúchos. Hoje, estão empenhados na resolução de casos mais antigos, o que também se reflete no aumento das prisões. O Departamento de Homicídios ainda teve papel fundamental na formulação da Operação Pulso Firme, que transferiu 27 lideranças de facções para penitenciárias federais.
– Foi um esforço conjunto com o setor de inteligência da secretaria. Vínhamos mapeando esses grupos e sentimos que precisava ser feito alguma coisa para desarticular lideranças. Creio que vai frear os homicídios por um tempo, mas não é uma solução definitiva – afirma Grillo.
Para ele, o estrangulamento das facções só será possível com mudanças concretas no sistema prisional.
Roubos estabilizaram em um ano
Apesar da comoção provocada pelo crime, e da chacoalhada no comando da segurança pública, para o irmão de Cristine, o empresário Rodrigo da Fonseca Massa, 33 anos, pouca coisa mudou, na prática.
– Continuo ouvindo relatos de vizinhos e amigos roubados. Sim, ultimamente tem mais brigadianos na rua, e na época a gente via a Força Nacional, mas não acho que houve mudanças tão concretas – avalia.
De fato, praticamente não há queda nos índices de roubos em Porto Alegre. Conforme os indicadores da Secretaria da Segurança Pública (SSP), entre setembro de 2015 e junho de 2016, a Capital registrou 29.452 casos – média de quase cinco por hora. Entre setembro do ano passado e junho de 2017, foram 28.931 registros – redução de apenas 1,77%. Mais significativa foi a queda de roubos de veículos, de 12,74%. Metade dos latrocínios na Capital no período mais recente resultaram de ataques a vítimas em carros.
– Sabíamos que o primeiro passo a seguir era devolver à população a sensação de segurança. A presença da Força Nacional ajudou muito porque as pessoas passaram a ver policiais nas ruas, e aí se tornaram mais receptivas ao trabalho do policiamento – avalia o coronel Mario Ikeda, subcomandante-geral da Brigada Militar (BM).
Redução logo após reforço não se mantém
Como aquela vassoura nova que varre bem, a presença dos 136 agentes em reforço aos policiais militares que já faziam parte da Operação Avante, com barreiras em pontos de grande movimento, em setembro de 2016, primeiro mês da Força, 490 veículos foram roubados na cidade – 53% a menos que no mesmo mês de 2015 e 15% a menos que nos 30 dias anteriores. Os demais roubos caíram 17% em relação ao mês que antecedeu a chegada das tropas federais. Mas a baixa não se sustentou nos meses seguintes.
E com o reforço interiorano empregado em março deste ano, o fenômeno se repetiu. Porto Alegre teve, em abril, o menor volume de roubos registrados em dois anos. Foram 2.557 ocorrências – 835 crimes, ou 24,6% a menos do que nos 30 dias anteriores. Mas mais uma vez, os números voltaram ao patamar dos 3 mil casos no mês seguinte.
– Por enquanto, o que conseguimos, concretamente, foi estabilizar esse tipo de crime. Com a permanência do reforço de policiamento nas ruas e a melhoria do levantamento de informações em cada área da cidade, a tendência é reduzirmos gradualmente – projeto Ikeda.
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