Claudineia dos Santos Melo, que estava grávida de nove meses e teve o bebê ainda no útero atingido por uma bala perdida no Rio de Janeiro no último dia 30, descreveu o momento em que viu o confronto entre policiais e traficantes e o instante em que recebeu o disparo acidental. Ela concedeu entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (9).
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Aos 29 anos e grávida de 39 semanas, ela estava sozinha em um mercado da Favela do Lixão, na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, quando teve início uma troca de tiros entre policiais e traficantes. Uma das balas perfurou o seu quadril e atingiu o filho, Arthur.
– Só vi quando o carro da polícia parou atrás. Eles chegaram rápido. Eu rapidamente olhei, vi que tinha mais policiais na frente, vi que ia acontecer. Lá perto tem um depósito de bebidas, eu tentei ainda entrar no depósito, mas não deu tempo – declarou.
A bala atingiu o lado esquerdo do quadril de Claudineia, passou de raspão pelo crânio do bebê, feriu a orelha direita, fraturou a clavícula, perfurou o pulmão, atingiu duas vértebras dorsais e atravessou outro pulmão, até sair do outro lado.
– Senti o impacto, né? Impacto forte. Pensei até que fosse um estilhaço de algum litro (garrafa de vidro), alguma coisa que tivesse quebrado ali. Quando olhei, vi que era. Falei pro rapaz: "Moço, fui atingida".
No mesmo instante, ela pensou em Arthur.
– Pensei logo nele. Porque a barriga começou a doer muito. Eu falava: "Não consigo andar, não consigo andar". Ele (o policial) falou: "Você consegue, vem devagar que você consegue". Aí me colocaram na viatura, me socorreram e me trouxeram pra cá.
Levada às pressas para o Hospital Moacyr do Carmo, ela foi operada. Quando os médicos tiraram o bebê, que já estava pronto para nascer, perceberam os ferimentos no tórax.
A mãe teve alta na quinta-feira (6) e, antes de ter visto Arthur, confessou o desejo de tocá-lo. O garoto nasceu com mais de três quilos e 50 centímetros.
Em recuperação, o bebê passou por uma cirurgia na coluna e pode ficar paraplégico, segundo os médicos.
– Hoje, qualquer prognóstico que a gente faça é precipitado –, diz o neurocirurgião Vinícius Mansur Zogbi.
Apesar da incerteza em relação aos movimentos, Arthur tem boa recuperação, segundo o coordenador da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital, Eduardo Macedo.
– O bebê progride muito rápido. Todo mundo se espanta. Ele já respira sozinho, com auxílio mínimo de aparelhagem. Inclusive já está comendo, por sonda, mas está comendo e progredindo conforme a gente espera – afirma o médico.