Por alguns instantes, talvez segundos, eu, o repórter fotográfico Lauro Alves e o motorista Márcio Ávila experimentamos, nesta quinta-feira (29), a sensação vivida constantemente por crianças e adultos que moram, trabalham ou estudam em áreas conflagradas pela guerra do tráfico.
Mal havíamos desembarcado do carro para um reportagem na Restinga, zona sul de Porto Alegre, justamente sobre a violência que assusta a comunidade da Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Pessoa de Brum, quando ouvimos tiros.
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O Lauro seguia para uma esquina, à procura de um bom ângulo para fotografar a escola cercada de guardas municipais. O Márcio estacionava o carro na outra esquina, e eu me dirigia à entrada do prédio. Embora não pudéssemos enxergar os atiradores, pudemos perceber que estavam nas proximidades.
De tanto ouvir relatos, em três décadas de reportagem, corri para trás de uma parede. O repórter Ticiano Kessler, da Band TV, foi para o mesmo lado. Agachado, consegui fotografar dois guardas municipais, que também haviam procurado refúgio, um deles atrás de um poste, e o outro, em um prédio em frente. Por ironia, a parede que por ora nos protegia tinha pelo menos quatro marcas de tiros.
Tento imaginar como vivem as crianças, algumas delas com cinco, seis e sete anos, que estudam ali. Um dia antes, dezenas delas, assustadas, haviam corrido durante o recreio, ao ouvirem o som típico dos conflitos naquela e em outras periferias. E os professores, que têm a missão de ensinar, em meio a um clima de guerra? E os pais, aflitos à distância, em casa ou em seus locais de trabalho?
A guerra do tráfico – como de resto, toda a forma de crime –, indiretamente, ataca a educação, sua maior e mais poderosa inimiga.