A multidão que se despediu do escrivão Rodrigo Wilsen da Silveira, 39 anos, neste sábado (24) em Porto Alegre, dá uma ideia de quanto o agente da Polícia Civil era estimado pela categoria. Cerca de mil pessoas, segundo cálculos do Cemitério Municipal São João, prestaram homenagem ao escrivão assassinado a tiro na sexta-feira por durante operação policial contra o tráfico de drogas em Gravataí, na Região Metropolitana.
A capela B, os corredores, e as duas entradas de acesso ao local ficaram lotadas de amigos, agentes e delegados da Polícia Civil, praças e oficiais da Brigada Militar e guardas municipais. Nenhum representante da cúpula do governo do Estado acompanhou o sepultamento. Na noite de sexta-feira, o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, foi ao encontro da família, quando do início do velório.
Nem mesmo antigos policiais, que não conheciam Rodrigo – policial desde 2012 – conseguiram conter a emoção.
– Com 35 anos na polícia, participei de incontáveis tiroteios, perdi colegas, vi crianças mortas e com o passar do tempo a gente vai endurecendo o coração. Mas esta morte me abalou muito. É comovente ver jovens policiais aos prantos por causa desta tragédia. Graças a Deus eles são assim – afirmou o comissário aposentado Emerson Ayres, presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil.
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O ex-chefe de Polícia Ranolfo Vieira Junior Lembrou que o momento é de reflexão sobre a legislação, pois o homem apontado como matador do escrivão deveria estar preso.
– Como um homem desses entra e sai da cadeia? Precisamos avaliar o fato em si e todos os aspectos que envolvem a segurança, o sistema legal e o Judiciário, que tem nos decepcionado, a começar por Brasília.
Às 11h38min, amigos e colegas formaram um extenso corredor humano para acompanhar a saída do caixão da capela B. Empurrado sobre um carrinho e ao som da marcha fúnebre, o esquife era conduzido por oito pessoas, entre elas, a mulher de Rodrigo Raquel Biscaglia, também escrivã da Polícia Civil, e que acompanhava o marido na trágica operação da sexta-feira. Enquanto segurava o caixão com a mão direita, Raquel afagava o coração com a mão esquerda.
O cortejo percorreu cerca de 250 metros até a quadra 15 do cemitério, passando em frente a viaturas policiais que acionaram sirenes. Às 12h, diante do jazigo 547, foi executado o toque de silêncio, e o padre João Maria Callegaro, da Paróquia São João Batista, benzeu a sepultura. Todos rezaram o Pai Nosso e a Ave Maria. Os familiares e os filhos de Rodrigo e de Raquel depositaram rosas sobre o caixão. Sobre ele havia as bandeiras do Grêmio e da Polícia Civil. A da corporação foi entregue a Raquel que se abraçou a ela e chorou.
Com lágrimas nos olhos, o comissário Mário Viegas, colega de trabalho na 2ª Delegacia da Polícia Civil de Gravataí, lembrou com orgulho de Rodrigo.
– Ele viveu cinco anos na polícia, mas foi muito maior do que uma boa parte de policiais que eu conheço e ainda estão na corporação – exclamou Viegas, 55 anos e 37 de profissão.
Também chorando, o delegado Rafael Sobreiro, titular da mesma delegacia, exclamou:
– O Rodrigo nos orgulhou e nos ensinou a respeitá-lo. Ele jamais será esquecido.
Ao final do funeral, o helicóptero da Polícia Civil, um Esquilo B3 sobrevoou o cemitério, lançando, por duas vezes, "chuva" de pétalas de rosas branca, sob aplausos da multidão.
Um familiar de Rodrigo agradeceu a presença de todos e pediu:
– Que a morte dele sirva de exemplo de uma polícia integra e que todos vocês não sintam o que estamos sentindo agora.