Havia música tocando na sala 2 da Capela Cristo Redentor, indicativo da personalidade alegre e divertida da empresária e pedagoga Sandra Mara da Rosa Borges, 41 anos, morta pelo ex-companheiro na tarde da última sexta. O velório, que ocorreu durante a manhã e tarde de sábado, reuniu dezenas de amigos, familiares e clientes. Sandra era proprietária da pizzaria Sabor do Sul, que fica no bairro Rio Branco, empreendimento que ela resolveu tirar do papel há cerca de oito anos, depois de ter atuado muito tempo em escolas infantis da cidade como pedagoga. Os negócios iam bem, mas na vida pessoal, Sandra enfrentava o pavor de ser perseguida pelo metalúrgico Ivan Antunes Carneiro, 36, um homem possessivo e violento que não aceitava o fim do relacionamento. A história é parecida com tantas outras, um "clichê" triste e preocupante dos casos de feminicídio – só na Serra, já foram registrados nove desde 2016.
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O irmão mais novo da vítima, Alexandre Borges, 39, foi o último a ser contatado por ela. Ele conta que leu uma mensagem de Sandra por volta das 15h45min da sexta, na qual ela solicitava que Borges a encontrasse na rodoviária.
– Ela dizia que estava com o Ivan dentro do apartamento e que ele estava armado. Ela pediu que eu a encontrasse na rodoviária, que ela iria fingir um desmaio para tentar fugir. Ela mandou a mensagem por volta das 15h, mas eu só vi às 15h45min. Quando cheguei na rodoviária, estava cheio de ambulância – lamentou Alexandre.
Na rodoviária movimentada em véspera de fim de semana, Ivan matou Sandra com um tiro e, em seguida, disparou contra si mesmo atingindo a cabeça de raspão. De acordo com a família, Sandra estava na rodoviária para buscar duas amigas que a acompanhariam num evento da Pastoral da Criança, em Bento – ela era voluntária da instituição há anos. Os irmãos da vítima acreditam que Ivan tenha invadido o apartamento dela ainda na noite de quinta. Ele teria seguido de moto atrás dela no momento da entrada na garagem do prédio e aproveitado a brecha. O assassino teria passado a noite com a vítima, pois os familiares encontraram roupas dele (usadas para andar de moto em tempo chuvoso) no apartamento, além da moto, que ficou estacionada no prédio. A família deduz que Sandra foi ameaçada pelo ex-companheiro para não contar que ele estava com ela, mas conseguiu mandar a mensagem ao irmão nos poucos instantes que ficou sozinha.
Medida de proteção foi ineficaz
Pedido de socorro ela também já tinha feito à Brigada Militar. A empresária tinha uma medida protetiva desde 11 de abril, quando narrou aos policiais que temia pela própria segurança e que não sabia do que Ivan era capaz. O medo era tanto que ela chegou a se mudar para a casa do pai nos últimos meses, depois de ter sido perseguida por Carneiro na saída do trabalho. Há cerca de duas semanas, ela tinha voltado para o apartamento acreditando que ex-companheiro sairia da cidade, como prometeu a ela.
– Estamos perplexos, a gente quer justiça – disse Clóvis, 40, outro irmão de Sandra.
– Ele era muito ciumento e possessivo. A Sandra tinha muito medo dele, ele a ameaçava, mas a gente nunca acha que uma coisa dessas vai acontecer realmente – desabafou a irmã de Sandra, Elaine, 43.
Amiga de infância da vítima, Luciana Adamatti, 43, também estava inconformada com a tragédia envolvendo a amiga.
– Ela era a pessoa mais forte, a mais feliz, a mais generosa – resumiu.
O sepultamento de Sandra ocorreu no fim da tarde de sábado, no Cemitério Parque, em Caxias. O autor do crime permanece internado na UTI do Hospital Pompéia e está sob custódia da polícia. Carneiro foi autuado em flagrante por feminicídio e porte ilegal de arma de fogo. Ele utilizou um revólver calibre .38 de numeração raspada no crime.