Tio do adolescente de 17 anos que teve a testa tatuada com a frase "eu sou ladrão e vacilão", Vando Rocha negou que o sobrinho tenha tentado furtar a bicicleta de um homem sem perna. O jovem foi tatuado pela dupla Maycon Wesley Carvalho dos Reis e Ronildo Moreira de Araujo, em São Bernardo do Campo (SP), na sexta-feira (9), sob a acusação de que teria tentado levar a bicicleta.
Em entrevista ao programa Timeline Gaúcha, Rocha relatou que o sobrinho sofre com a dependência de álcool e drogas. Ele ainda reiterou que, mesmo que tivesse furtado a bicicleta, a ação não justificaria "o absurdo" feito pela dupla, que está presa desde a madrugada de sábado (10) por tortura. Segundo o site G1, o crime ocorreu nas escadarias de uma pensão na cidade da região metropolitana de São Paulo, onde o adolescente teria sido obrigado a sentar em uma cadeira de plástico do lado da porta de acesso a uma lavanderia do local.
– Infelizmente, ele é usuário de drogas, estava alcoolizado, viu a porta aberta, entrou e parou na bicicleta. Quando a bicicleta caiu e ele foi pegar para levantar, o rapaz (vizinho da pousada) viu. Achou que ele estava roubando, chamou o tatuador e nessa já prendeu o moleque, perguntando se ele queria fazer uma tatuagem. Ele, meio alcoolizado e na inocência, falou para os caras que poderiam fazer a tatuagem – conta Rocha.
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Rocha afirmou que o sobrinho "chorou a noite toda" após a agressão. Em depoimento à Polícia Civil, no sábado, o jovem negou ter cometido qualquer furto e, em seguida, foi levado ao posto médico para ser medicado e voltou para a casa da avó.
– Os caras perguntaram onde seria (a tatuagem) e ele (o adolescente) falou "nos braços". E aí os caras (disseram) "não, você, como veio roubar uma bicicleta aqui, a gente vai escrever na sua testa 'ladrão e vacilão'". Ele pediu para os caras que pelo amor de Deus não fizessem isso (a tatuagem), disse para que quebrassem os braços e as pernas dele, mas que não fizessem isso – conta.
Segundo Rocha, o adolescente de 17 anos não frequenta a escola e tem distúrbio de comportamento. O tio afirma que o jovem tem pai, mãe e vó e destaca que ele "nunca foi abandonado" pela família.
– Ele é um moleque muito bom, que não tem maldade. Não é porque é meu sobrinho que estou falando isso. Ele sempre teve (apoio), mas ele tem um distúrbio e "não para quieto" – relata. – Como ele é um menino bom, as pessoas ajudam. (Mas) quando ele começa com bebida, ele começa a usar drogas e cai nessa vida aí, perdida.
Condenando a iniciativa da dupla que tatuou a testa do sobrinho, Rocha relacionou a agressão aos crimes investigados pela Operação Lava-Jato:
– Se todas as pessoas fossem fazer o que eles fizeram, imagina aqueles caras que roubaram na Lava-Jato, todo mundo ia estar tatuado. Não ia nem onde colocar tatuagem.
O adolescente havia desaparecido em 31 de maio e foi encontrado por amigos no fim da tarde do último sábado na Estrada dos Casa, também em São Bernardo do Campo.
O crime
No primeiro vídeo, Maycon Wesley obriga o menino a "pedir" uma tatuagem com a palavra "ladrão". O comparsa, que filmava o momento, grita que "vai doer". No outro registro, a dupla faz o menino contar que tentou roubar a bicicleta de um "homem que trabalha no farol" e que não tem perna. Aos risos, os homens fazem o menino mostrar sua tatuagem e perguntam se ele gostou. Os dois estão presos no 3º Distrito Policial de São Bernardo.
Solidariedade
No final da tarde deste domingo (11), o coletivo Afroguerrilha já havia arrecadado R$ 19,9 mil para apagar a tatuagem da testa do adolescente. O grupo pretendia arrecadar, inicialmente, R$ 15 mil.
Além da remoção da tatuagem, a iniciativa também prevê o custeio de cuidados com saúde – para o adolescente se recuperar da suposta dependência química e ter acompanhamento psicológico – e do processo na Justiça contra os acusados. De acordo com descrição no site de doações, integrantes do coletivo conheceriam o menino e sua avó.