Em meio à operação realizada pela 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (5ª DHPP) contra uma das maiores facções criminosas em atuação na Região Metropolitana, responsável por mortes violentas como decapitações e esquartejamentos, um desenho feito por uma criança, encontrado durante a ação, deixou os policiais estarrecidos.
Em um pequeno pedaço de papel, um menino de 10 anos, morador de uma das casas investigadas, no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, havia registrado, a lápis, armas como uma metralhadora, revólver, pistola, espingarda, machado e facão, um projétil e uma pessoa sendo baleada na cabeça.
Leia mais:
Transferência de líder de facção para penitenciária federal desencadeou megaoperação no bairro Mario Quintana
Facções avançam e dominam o Presídio Central de Porto Alegre
Guerra de facções espalha atos de terrorismo pelas ruas de Porto Alegre
O repórter da Rádio Gaúcha Cid Martins, que acompanhou a operação, conversou com a criança.
– São armas e uma pessoas com a cabeça estourando – disse o menino ao repórter.
A casa onde reside o menino foi um dos alvos de cumprimento de mandados. Porém, ninguém foi preso naquele local. Em outras moradias e ruas, quatro pessoas foram presas na operação.
Duas delas tinham contra si mandados de prisão preventiva e as outras duas foram autuadas em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e posse de drogas.
O psicanalista Mário Corso, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), ao analisar o desenho a pedido da reportagem, o avaliou como um reflexo da realidade vivida pelo autor.
– O horizonte dele é muito curto e as crianças costumam se apropriar de qualquer coisa para brincar ou desenhar. Então, ele (o menino) não tem outra visão de mundo, pois cresce nesse ambiente – afirma.
Também psicanalista membro da Appoa e casada com Corso, Diana Lichtenstein Corso vê no desenho algo positivo em meio à realidade que cerca o menino.
– Não significa que ele vá ter envolvimento com a violência. O desenho é uma forma de ele expurgar algo e um indício de que não vai repetir as ações desenhadas – argumenta.
Pedido de socorro
A psicóloga Suzana Braun, que durante 21 anos coordenou o setor de Psicologia do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente, também vê no desenho uma projeção de situações vivenciadas pelo menino. Mas tem uma visão diferente em relação aos riscos.
– É uma projeção e um pedido de socorro. É uma criança que precisa ser encaminhada para acompanhamento. Tenho um percentual muito expressivo de casos em que crianças retrataram uma realidade difícil e, quando não amparadas, acabaram tendo um comportamento inadequado anos depois – afirma.