Um crime em que a vítima entrega o próprio cartão de crédito e a senha a criminosos é o o alvo da Operação Privilege, deflagrada na manhã desta quarta-feira pela Polícia Civil.
O trabalho investigou uma organização criminosa que pratica estelionato. A partir de ligações feitas da cidade de São Paulo para telefones fixos de Porto Alegre, a quadrilha se identifica como a operadora de cartão de crédito e informa a pessoa de que houve uma compra fora do seu padrão. Convencida de que estava falando com a central de segurança do cartão, a vítima passa a senha e entrega o próprio cartão a um integrante da quadrilha na capital gaúcha.
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Com posse do cartão, os criminosos fazem compras e saques no mercado local e encaminham parte do que foi adquirido a São Paulo. A operação cumpre 11 mandados de busca e apreensão e 12 de prisão preventiva em Viamão e nas capitais gaúcha e paulista. A investigação identificou 29 vítimas, todas em Porto Alegre, que tiveram um prejuízos que somam R$ 500 mil.
A partir de ocorrências registradas em três delegacias da Capital, a 3ª DP começou a apuração em dezembro do ano passado. Ao longo do trabalho, os policiais identificaram que a quadrilha tinha informações privilegiadas de uma pessoa que é considerada peça fundamental do esquema: a funcionária de uma imobiliária da Capital que tem acesso a uma extensa lista de dados de clientes da empresa.
A quadrilha recebe a informação privilegiada da funcionária da imobiliária e faz ligação para as vítimas que muitas vezes são do mesmo bairro e até da mesma rua. Muitas delas são pessoas idosas de classe média e classe média alta. As ligações ocorrem normalmente à tarde.
– Grande parte dessas vítimas não serão ressarcidas porque passaram suas senhas aos criminosos e o banco não faz ressarcimento neste caso – explica o titular da 3ª DP, delegado Hilton Muller.
Ao fazer a ligação, o criminoso de São Paulo usa gravações telefônicas pré-elaboradas idênticas a centrais de relacionamento com cliente para fazer com que a pessoa tenha praticamente certeza que está lidando com o setor de inteligência da operadora do seu cartão.
Ao acreditar que está sendo auxiliada, a vítima passa informações que a quadrilha não tinha, como histórico de últimas compras e o banco do qual é correntista. Os criminosos pedem que a vítima corte o cartão ao meio, preservando a área do chip e solicitam que a pessoa escreva uma carta de próprio cunho negando a compra que a própria quadrilha afirma que ela fez.
No mesmo contato, a vítima informa à quadrilha a senha do cartão por meio da discagem dos números no telefone, enquanto os golpistas conseguem capturar os números pelo som das teclas.
– O criminoso diz que a operadora está mandando um motoboy para a casa das pessoas para pegar o envelope com o cartão cortado e a carta. Como normalmente as vítimas são de áreas centrais da cidade, em 20 minutos o motoboy está na casa da vítima, quando o golpe, então, é efetivado – afirma o delegado.
Dicas de segurança para não cair em golpes:
– Não dê senhas por telefone.
– Os bancos não fazem contato com os clientes por telefone.
– Os contatos sempre são feitos a partir do correntista para o banco e não o contrário.
– Não corte o cartão e não encaminhe nada a ninguém.
– Se tem alguma dúvida, saia de casa e vá até o banco pessoalmente contatar seu gerente.