Um inquérito policial militar (IPM) foi aberto pelo grupo de correição do Comando do Policiamento da Capital (CPC) para apurar a conduta de um policial do Batalhão de Operações Especiais (BOE) durante uma abordagem que resultou na morte de Giovanny da Conceição Vieira, 15 anos, na última quinta-feira (11), no bairro Belém Velho, na zona sul de Porto Alegre. O adolescente, que pilotava uma moto, foi atingido por um tiro de fuzil 5.56 pelas costas, disparado pelo PM. Ele chegou a ser socorrido ao Hospital da Restinga, mas na sexta-feira (12) teve a morte confirmada.
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Com uma faixa pedindo "justiça", familiares e amigos do adolescente, que era conhecido como Vanny, bloquearam a Rua Doutor Vergara, no bairro Belém Velho, durante a tarde de sábado (13), com pneus queimados. A Brigada Militar acompanhou o protesto e foi preciso a intervenção do Corpo de Bombeiros para controlar o fogo. Os manifestantes alegam que Giovanny foi executado pelos policiais.
– Não podemos deixar margem para qualquer suspeita, por isso, recolhemos a arma usada pelo policial e o procedimento externo ao BOE foi aberto. Por enquanto, eu só tenho conhecimento da versão dada pelos quatro policiais que estavam na viatura, e não indica que eles tenham falhado – afirma o comandante do BOE, major Cláudio Feoli.
Conforme o registro de ocorrência feito pelos policiais, eles teriam suspeitado da atitude de um motociclista na altura da Avenida Oscar Pereira. Passaram a acompanhá-lo e, depois de cerca de 10 minutos de perseguição, teriam conseguido se aproximar da moto na Estrada Costa Gama. A ocorrência relata que, mesmo dirigindo a moto em fuga, o adolescente teria sacado uma pistola e feito menção de atirar na viatura. Neste momento, um dos quatro policiais teria atirado. Atingiu Giovanny pelas costas e ele caiu com a moto.
Uma pistola 9mm com 11 munições, além da moto, foi apresentada pelos policiais. A arma estaria, segundo eles, com o adolescente.
A família contesta essa versão. Segundo o tio, Cristiano Borges, 30 anos, o tiro que matou o adolescente teria sido disparado com ele já caído no chão.
– O meu sobrinho nunca encostou em uma arma. Ele cumpria serviço comunitário por ter sido pego dirigindo sem carteira. No hospital ele conseguiu informar o número do celular da mãe aos policiais – diz Borges.
O Departamento de Homicídios deve ouvir familiares de Giovanny ainda neste domingo. Na quinta-feira, o departamento especializado não foi acionado ao local do crime. Parentes de adolescente fizeram um registro de ocorrência no Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca).
A cada semana, duas mortes
Esse foi o 36º caso de morte causada por policiais militares neste ano na Região Metropolitana, conforme o levantamento da editoria de segurança de ZH e Diário Gaúcho.
As 36 mortes causadas por policiais militares desde o começo deste ano representam, a cada semana, duas mortes em ação da BM. Os números praticamente repetem os 34 casos do mesmo período do ano passado, mas representam salto em dois anos. Em 2015, neste mesmo período do ano, policiais militares eram autores de 2,5% dos homicídios na região.
Agora, é o dobro – 5,1%.Em 27 casos deste ano – 75% – as mortes aconteceram em ações policiais (abordagens, perseguições ou confrontos), enquanto há dois anos, eram 62,5%.
A morte de Giovanny Vieira foi a segunda em duas semanas ocasionada por policiais militares durante abordagens na zona sul de Porto Alegre. No último dia 30 de abril, Patrick Fernandes Vieira, 19 anos, foi morto com um tiro na perna ao, supostamente, fazer menção de atirar contra policiais do Pelotão de Operações Especiais (POE), do 1º BPM.
O caso, que ainda é investigado pela 6ª DHPP, teria sido o estopim para um final de semana tenso na região da Vila Cruzeiro. Houve atentados contra a BM e ônibus incendiados. Até agora, o funcionamento de algumas linhas não voltou a pleno na região e o policiamento está reforçado por tempo indeterminado.