Considerada a maior ofensiva da história da Polícia Civil do Rio Grande do Sul contra os jogos de azar, a operação Deu Zebra estourou, na manhã desta terça-feira, bancas de dois bicheiros que dominam o mercado na Metade Sul do Estado: os grupos liderados por Mario Kucera, de Bagé, e Marcos Dierka, de São Gabriel.
Segundo a investigação, as bancas de Dierka e de Kucera recorriam a mais de uma dezena policiais civis e militares corruptos para o serviço de segurança armada dos seus negócios. A delegada Ana Tarouco informa que, neste momento, eles não serão alvo de mandado judicial. Ela explica que é preciso trabalhar mais na identificação desses policiais. A primeira medida, diz, será o envio do inquérito para as corregedorias da Polícia Civil e Brigada Militar.
– Temos, infelizmente, a implicação de policiais, entre 10 e 15. Neste momento, eles ficaram de fora para que não tenhamos dúvidas sobre até onde vai o acesso deles. Mas foi identificada a questão da segurança, alguns policiais trabalhando na segurança dos bicheiros e das bancas. E também para cobrança, para fazer valer um braço armado – descreve a delegada.
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A banca de Dierka, adepta da violência, recorreria com frequência a policiais para cobrar devedores e ameaçar desafetos. Esse grupo foi flagrado nos grampos contratando um sargento da Brigada Militar para aplicar uma surra em um apontador. Pelo serviço, ele receberia o pagamento de R$ 200.
– Arrumei o meu colega aquele, o F****** – diz um policial que buscava outro comparsa de farda para servir ao bicho.
– Qual? – responde um dos homens da banca de São Gabriel.
– O F******, o sargento aquele.
– Mas pau ferro ou não? – questiona o bicheiro.
– Todos eles são pau ferro – devolve o policial aliciador.
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.