Era início da tarde de sábado quando o adolescente Jhuan Dassi da Silva, 17 anos, chegou na casa do avô Juarez Dassi para comemorar o aniversário dele de 59 anos. A tia pediu para que o garoto fosse até um barzinho a poucos metros de casa, na Estrada Passo do Nazário, Bairro Marechal Rondon, em Canoas, comprar um refrigerante que estava faltando para completar a celebração que ocorreria em casa. Jhuan, conhecido por ser um garoto solícito e dedicado à família, foi buscar a bebida para nunca mais voltar.
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Assim que o garoto entrou no bar que fica anexo a uma borracharia, quatro homens vestidos de policiais e armados com fuzis chegaram no estabelecimento e abriram fogo contra todos os homens que ali estavam. Apenas as mulheres foram preservadas.
Três gerações da mesma família proprietária dos dois estabelecimentos foram mortas: o patriarca Getúlio Freitas, de 67 anos, o filho dele Diomar Souza de Freitas, 29 anos, e o neto Leonardo Freitas, 21 anos. Outro filho de 38 anos ficou ferido, mas sobreviveu.
Jhuan, que estava próximo ao balcão, foi atingido por tiros na nuca e em uma das mãos. Uma parente da família Freitas que prefere não se identificar, disse que não sabe o motivo das execuções, mas que pessoas já teriam ameaçado atacar a casa da família em outra ocasião.
– Foi muito tiro, carregaram mais de quatro vezes aquelas armas. Eles não quiseram matar as mulheres ou Deus vendou os olhos deles – contou a testemunha que presenciou a execução dos familiares.
O delegado Valeriano Garcia Neto, da Delegacia de Homicídios de Canoas, não quis divulgar a motivação do crime. Segundo a Polícia Civil, Diomar tinha antecedentes por lesão corporal e tentativa de homicídio e Leonardo tinha um passagem por posse de entorpecentes.
O patriarca da família Freitas não tinha antecedentes criminais. O adolescente Jhuan, que era cliente do estabelecimento, também não tinha passagem pela polícia.
– O que a gente perdeu não vai ter volta. Infelizmente, isso vai continuar acontecendo com outras famílias. Só mudam as figuras, porque a ações são as mesmas e a impunidade é cada vez maior – desabafou Magda Dassi, 36 anos, tia de Jhuan.
Comoção em velório
O adolescente Jhuan e o gêmeo dele eram os mais velhos de seis irmãos - a mais nova tem cinco anos. No velório, que ocorreu no Cemitério Chácara Barros, as crianças se agarravam ao pai Tarcísio Rodrigues da Silva, 37, e à mãe, Elisandra da Silva Dassi, 35 anos, tentando buscar conforto para a dor.
– Mataram ele – dizia um dos pequenos em meio aos prantos.
– Não era pra ser o meu filho – lamentava a mãe que mal conseguia se manter de pé.
Tarcísio, que trabalha com obra, lembrava orgulhoso do filho que batalhou para ajudar a cuidar dos irmãos e a manter as contas da casa em dia. Sempre que presenciava a dificuldade financeira dos pais, Jhuan se mobilizava de alguma forma. Aos 13 anos, teve a ideia de acoplar um reboquinho à bicicleta para arrecadar papelão e garrafa pet e vender para reciclagem. Recentemente, estava trabalhando em um ferro-velho no contraturno escolar.
– Meu filho morreu inocente, passou lá para pegar um refrigerante e acabaram com a vida dele – desabafou o pai.
Os familiares afirmam que Jhuan morreu por estar no lugar errado e na hora errada. A tia que pediu para o sobrinho buscar o refrigerante, não se conforma com o fim trágico em plena tarde de sábado.