Mais de R$ 250 mil e pelo menos três armas de fogo foram apreendidas pela Operação Deu Zebra, deflagrada pela Polícia Civil na manhã desta terça-feira em 14 municípios gaúchos, focada no combate ao jogo do bicho, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Até o final da manhã, 19 pessoas haviam sido detidas, sendo 12 preventivamente e sete em situação de flagrante. Ainda restavam dois mandados de prisão a serem cumpridos.
– É a maior investigação em termos de lavagem de dinheiro já realizada na história da Polícia Civil, seja pelo número de ordens judiciais executadas, seja pelos valores movimentados no período da investigação nos últimos quatro anos. E também pelo valor dos bens sequestrados – destacou o chefe de Polícia, Emerson Wendt, em entrevista coletiva em Santana do Livramento, base da operação.
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As duas quadrilhas investigadas movimentaram mais de R$ 520 milhões em quatro anos, fazendo uso de lotéricas, empresas de fachada e laranjas para lavar o dinheiro. O patrimônio apreendido foi estimado em R$ 11 milhões. Como a ofensiva atacou o setor de tecnologia dos banqueiros, que atuam com máquinas de cartão de crédito e sistemas de transmissão e arquivamento de dados, a Polícia Civil acredita ter tirado o jogo do bicho do ar, ao menos neste dia.
Sobre a possibilidade de o jogo voltar a ser praticado pelas mesmas bancas em pouco tempo, Wendt explicou que o foco não é atacar as apostas em si. Isso seria "enxugar gelo", explicou. Para ele, a prioridade é a investigação de longo prazo que desvele lavagem de dinheiro e que possa descapitalizar as organizações.
– Precisamos mudar a forma de agir enquanto polícia investigativa. Se atuarmos, vai ser no contexto. Não vamos acabar com o jogo do bicho, mas o que envolve o jogo, a questão da lavagem de dinheiro, nós precisamos atacar. Precisamos evoluir enquanto polícia – disse Wendt.
Ao lado da delegada Ana Tarouco, que conduziu as investigações a partir de Santana do Livramento por 16 meses, Wendt afirmou que "a Polícia Civil não vai deixar de fazer o que for necessário" ao ser questionado sobre o envolvimento de agentes públicos com as bancas do bicho.
Foi constatado que entre 10 e 15 policiais civis e militares foram cooptados pelas quadrilhas para prestar serviços de segurança e cobrança. Alguns eram chamados para aplicar surras em devedores e desafetos.
– Temos de olhar o jogo do bicho com outros olhos a partir de hoje – avaliou a delegada Ana Tarouco.
Ela se refere ao fato de um apostador de São Sepé ter entregue uma casa para continuar jogando em uma das bancas investigadas. Também chamou a atenção para o fato de crimes que podem ocorrer por trás do jogo, que ainda é popular e simpático em grande parte da população.
– Não vamos deixar de fazer o que é certo – afirmou Wendt a respeito do hábito da aposta na sociedade.Baseada em Santana do Livramento, a operação desbaratou bancas do bicho sediadas em Bagé e São Gabriel, mas com suas ramificações alcançando diversas outras cidades, sobretudo da Metade Sul do Estado.
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.