Ainda não eram 8 horas, na manhã desta terça-feira, quando Leila Vieira Fortuna, 35 anos, abriu a porta da peça em que vivia com o marido, Leonardo Nascimento, 27 anos. Deu dois passos para fora de casa quando resolveu voltar para dar um beijo de despedida no marido. Depois disso, saiu para tomar um ônibus. Enquanto aguardava o coletivo na parada foi atingida por uma bala perdida no peito.
– Ela me abraçou tão forte, deu um beijo e disse que já voltava – lembra, bastante abalado, o pintor Leonardo Nascimento.
Passaram poucos minutos dessa despedida, todos na Rua Negrinho Santos, no bairro Mathias Velho, em Canoas, assustaram-se com a sequência de tiros que durou alguns minutos, no que parecia ser uma perseguição desde a Rua Dona Maria Isabel, no vizinho bairro Harmonia. Os disparos seguiram até a Avenida Florianópolis, onde Leila deveria estar esperando o ônibus.
Nascimento não pensou duas vezes. Quando ouviu os disparos, correu até lá, a menos de 200 metros da peça em que o casal morava. Ele ainda segurou a companheira, agonizando, em seus braços:
– Nunca me preocupei com violência porque a gente nunca teve nada com isso. E aí, eles levaram um pedaço de mim assim. O que vai ser de mim?
Leila aguardava o ônibus na parada 16, na esquina da Avenida Florianópolis com a Rua Livramento. Os tiros tinham como alvo um Voyage prata que também cruzava a avenida. Uma bala perdida atingiu o peito, próximo à exila de Leila. Ela chegou a ser levada ao HPS de Canoas, mas não resistiu.
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O casal veio de Salvador, na Bahia, para o Rio Grande do Sul há quatro anos porque ele teve uma oportunidade para trabalhar pintor. Leila havia chegado a Canoas três meses depois do companheiro e logo partiu em busca de um emprego. Trabalhou como auxiliar de limpeza em uma universidade no Centro da cidade. Atualmente, porém, estava desempregada. Na manhã desta terça-feira, ela saía de casa justamente para ir ao INSS encaminhar o seguro-desemprego.
O companheiro também está desempregado atualmente e a renda dos dois limitava-se ultimamente ao que Leila conseguia ganhar como manicure em casa.
– Ela era a coisa mais querida com todos, nem costumava sair muito na rua porque estava sempre trabalhando. Os dois sempre foram muito unidos e conviviam muito bem com a vizinhança – diz um dos vizinhos, Dione Duzniewski, 23 anos.
Com o recurso do seguro-desemprego, o casal planejava viajar para Salvador.
Além de Leila, um homem de 40 anos e o filho dele, de 17 anos, ficaram feridos pelos disparos. De acordo com o delegado Valeriano Garcia Neto, que investiga o crime pela Delegacia de Homicídios de Canoas, eles eram o alvo e estavam no Prisma que ficou crivado por pelo menos 40 tiros de pistolas 9mm e .380. Até o momento, a polícia sabe apenas que os criminosos estavam em um carro escuro. Imagens de estabelecimentos comerciais próximos agora são procuradas pelos investigadores na tentativa de identificar os atiradores.
– Ao que tudo indica, foi uma tentativa de uma facção criminosa de eliminar testemunhas de crimes cometidos na região. Essa vítima que era alvo dos atiradores já testemunhou um crime e foi alvo de outra tentativa de homicídio meses atrás – explica o delegado.