A Polícia Civil precisou arrombar duas portas de aço e forçar uma terceira de ferro para cumprir, nesta terça-feira, o mandado de prisão contra Mario Kucera, o MK, apontado pela Operação Deu Zebra como o chefe da banca do jogo do bicho em Bagé, com supostas implicações nos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A família Kucera é uma das mais tradicionais de Bagé, tendo levado o cinema para a cidade e detendo uma concessão de rádio. As operações do grupo eram realizadas a partir de um prédio na Avenida Sete de Setembro, no centro, pontuada por prédios e palacetes históricos que remontam a história da cidade fronteiriça.
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A banca de Kucera era o principal alvo da Polícia Civil, que cumpriu 237 mandados judiciais em 14 municípios. Ele teria movimentado, nos últimos quatro anos, cerca de R$ 480 milhões não declarados. A partir de Bagé, domina pontos em diversas cidades gaúchas, a maioria da zona sul.
No bunker de Kucera, onde MK tinha bancas de jogo do bicho, seu escritório e apartamento residencial, a Polícia Civil deparou com estrutura reforçada. Na entrada, havia dois seguranças e um porteiro. Depois, para ter acesso ao hall do prédio, os policiais arrombaram a golpes de marreta duas portas de aço.
Um lance de escada levava à entrada do escritório de MK, protegida por uma porta de ferro, que chegou a ser forçada. Neste momento, o bicheiro, que estava do lado de dentro, anunciou que abriria e que não ofereceria resistência. Os mandados foram cumpridos sem percalços.
Como a família Kucera é tradicional, acrescido o fato de o ponto ser em local de grande circulação de pessoas no centro de Bagé, houve aglomeração de transeuntes. Muitos fizeram fotos e vídeos. Ao sair detido pela Polícia Civil, alguns bageenses manifestaram pesar com a prisão de MK, homem prestigiado na comunidade.
No local, foram apreendidas máquinas de apostas, celulares usados para disparar mensagens com o resultado do bicho, dinheiro, cheques e recibos.
Segundo a investigação, liderada pela delegada Ana Tarouco, MK se valia de duas lotéricas da Caixa Econômica Federal e de uma loja credenciada do Banrisul para lavar as verbas do bicho. Parte da família dele também seria dedicada ao trabalho com o jogo ilícito. As prisões, contudo, foram motivadas pelas suspeitas de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Kucera foi levado para a 12ª Delegacia Regional de Santana do Livramento, sede das investigações, onde chegou por volta das 14h30min desta terça. Depois de depor, ele será encaminhado ao presídio da cidade.
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.