Considerada a maior ofensiva da história da Polícia Civil do Rio Grande do Sul contra os jogos de azar, a Operação Deu Zebra estourou, na manhã desta terça-feira, bancas de dois bicheiros que dominam o mercado na Metade Sul do Estado.
A investigação de 16 meses da 12ª Delegacia Regional de Santana do Livramento, liderada pela delegada Ana Tarouco, constatou, a partir de 415 mil ligações telefônicas grampeadas e de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que os grupos liderados por Mario Kucera, de Bagé, e Marcos Dierka, de São Gabriel, teriam se valido de uma extensa rede de lotéricas, lojas e laranjas para lavar dinheiro de origem ilícita do jogo do bicho.
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Em diálogo interceptado, o núcleo de São Gabriel teria demonstrado periculosidade e infiltração do bicheiro no poder público. Em uma das bancas de Bagé, uma das arrecadadoras de dinheiro é funcionária da prefeitura. Ela se deslocava aos pontos de jogo para amealhar o recurso ilícito com sua farda de agente de trânsito da cidade e com carro identificado do município.
O episódio gerou atrito, já que a servidora pública concursada teria sido filmada em frente a um dos pontos. A apontadora do local onde teria ocorrido o flagrante, incomodada com a situação, foi ameaçada de ser excluída do negócio do bicho. Houve desconfiança de que ela havia feito denúncia para prejudicar a funcionária pública.
Ouça as conversas interceptadas:
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CONTRAPONTO
O que diz o advogado Décio Lahorgue, defensor de Mario Kucera:
Lahorgue declarou que o seu cliente é apenas empresário do jogo do bicho "há muitos anos". O advogado negou também que o seu cliente utilize lotéricas da Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro da jogatina.
– Na verdade, ele (Kucera) tem banca de jogo do bicho. Mas aquele patrimônio, aquilo tudo que dizem é uma ficção. Tem coisas arroladas na investigação de quando o Mario Kucera era criança ou sequer era nascido. Essa investigação está cheia de falhas. Ele tem jogo do bicho e só, mais nada – afirmou Lahorgue.
O que diz a defesa de Marcos Dierka:
Zero Hora não encontrou, até o momento, a defesa de Marcos Dierka, preso por suspeita de chefiar a banca de São Gabriel. A Polícia Civil informou que Dierka ainda não constituiu advogado junto às autoridades.