Após ouvir 22 testemunhas, incluindo alunos e socorristas, o delegado Leonel Baldasso da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, concluiu a investigação sobre a morte da adolescente Marta Avelhaneda Gonçalves, 14 anos. A vítima foi morta por asfixia dentro da sala de aula no dia 8 de março, na Escola Estadual Luiz de Camões, em Cachoeirinha.
Após ouvir os relatos dos alunos que presenciaram a briga, o delegado concluiu que apenas uma adolescente de 12 anos foi responsável por provocar a morte da vítima. A participação de outras duas meninas, que chegaram a prestar depoimento logo após o fato, foi descartada.
– De acordo com os depoimentos, uma delas correu para chamar a professora e a outra tentou separar as meninas que brigavam – explicou Baldasso.
A adolescente, que não terá o nome revelado por ser menor de idade, foi responsabilizada pelo ato infracional de homicídio. Em seu depoimento, ela negou que tenha estrangulado Marta e disse que a vítima teria incitado a briga. No dia da morte, a jovem alegou que Marta teria batido a cabeça.
Em depoimento, os alunos contaram que a adolescente responsabilizada revelou o golpe no pescoço da vítima para uma amiga: "Bah, apertei o pescoço dela, mas não fala pra ninguém, diz que ela bateu com a cabeça".
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Segundo os alunos, as meninas brigaram e caíram no chão. Marta teria ficado em cima da adolescente de 12 anos. Na sequência, a adolescente teria asfixiado a vítima com o braço. O golpe foi rápido e teria feito Marta cair com poucos sinais vitais. Segundo o laudo pericial, a fratura de um osso do pescoço permitiu concluir que a morte ocorreu por estrangulamento.
O Procedimento Especial de Adolescente Infrator deve ser encaminhado ao Ministério Público até esta quarta-feira. Caberá à promotora da Infância e Juventude analisar as provas e decidir pela representação ou não da adolescente pelo ato infracional ao Poder Judiciário.
– Estou convicto de que houve homicídio em razão de todas as circunstâncias. Se fosse uma lesão na cabeça, como a jovem alegou, poderia se induzir que não houve intenção. Mas houve provação prévia e o laudo concluiu que houve estrangulamento, o que indica que houve intenção.
Mentira prejudicou socorro à vítima
Além de entender que morte foi intencional em razão do estrangulamento, a polícia concluiu que o desfecho trágico poderia ter sido evitada caso a adolescente tivesse dito a verdade aos socorristas. Os profissionais do Samu que atenderam à ocorrência não sabiam que Marta havia sido estrangulada, pois não havia sinais externos. Eles também não foram informados que houve uma briga.
A informação repassada aos socorristas foi de que a vítima havia batido a cabeça. Portanto, os profissionais realizaram os procedimentos de acordo com a suposta causa. Eles ficaram cerca de meia hora no local tentando reanimá-la.
– Os profissionais foram induzidos ao erro. Se soubessem que era uma asfixia, fariam um procedimento chamado de "cricotomia". Infelizmente, ela chegou ao hospital já sem pulso – lamentou o delegado, que tomou como base para a sua interpretação os depoimentos da equipe do Samu e da médica que atendeu a adolescente no hospital.
Baldasso destacou ainda a cautela da médica ao atender a ocorrência no hospital. Em princípio, Marta chegou à unidade como vítima de morte natural. Porém, a especialista desconfiou e pediu a necropsia. Foi aí que se descobriu a morte por asfixia.
– No hospital não fazem necropsia quando a morte é natural. A médica acabou tomando conhecimento das circunstâncias e encaminhou o caso para a polícia – disse o delegado.
Bullying no primeiro dia de aula
Com base nos depoimentos dos alunos e de professores, a polícia identificou que a rixa entre Marta e a adolescente de 12 anos responsabilizada pela morte iniciou no primeiro dia de aula, ou seja, um dia antes da morte. Marta era aluna nova, pois havia mudado da Capital para Cachoeirinha com a mãe. No primeiro dia, a adolescente teria a chamado de "feia" e "balão".
Em um dos diálogos presenciados pelos colegas nos corredores da escola, Marta teria parado para tirar satisfação com a adolescente: "Está falando mal de mim?". E a adolescente teria respondido: "Sim, estou". Após alguns minutos de discussão, a adolescente teria questionado: "Quer ver então?". Este diálogo teria ocorrido pouco antes da briga.
Os professores disseram à polícia que não sabiam da confusão, pois ocorreu na troca de turno. Os cerca de 10 alunos que presenciaram o fato não contaram sobre a discussão. Porém, elas perceberam que pelo menos três meninas, entre elas a jovem apontada pela polícia, estavam agitadas no dia em que Marta morreu.
CONTRAPONTO
O que diz a defesa da adolescente
O advogado Cristian Wasem disse à reportagem que pretende se manifestar sobre o caso, mas precisa ter acesso ao procedimento de investigação. Um requerimento oficial será remetido à delegacia para solicitar o documento. A partir de então, o advogado pretende esclarecer como será conduzida a defesa da jovem.
O que diz a Secretaria Estadual de Educação
De acordo com a coordenadora regional de educação, Marta Ávila, o programa Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipav) está sendo implantando na Escola Estadual Luiz de Camões, em Cachoeirinha. O objetivo é resgatar a tranquilidade da unidade – que não tinha histórico de violência –, a confiança da comunidade e o bom convívio entre os alunos. Uma vice-diretora também foi designada para auxiliar as equipes do período da tarde, uma vez que o cargo estava em aberto.
– A gente pretende fazer um trabalho legal para resgatar a escola, visando os alunos que lá estão – destacou.
Uma sindicância foi aberta após o fato para apurar se houve negligência de profissionais da unidade. O procedimento ainda está em andamento.