O grupo contratado para construir o túnel que poderia levar a uma fuga em massa do Presídio Central teria, no mínimo, mais 20 dias de trabalho pela frente para chegar ao muro. Essa é a estimativa de engenheiros consultados pela reportagem que ainda dizem ser "praticamente impossível" concluir a obra até o Carnaval. A Polícia Civil, por sua vez, alega que faltariam apenas 10 metros em linha reta para chegar à cadeia e, com isso, os criminosos fugiriam no feriadão. Já o Instituto-Geral de Perícias informa que, como o apuração ainda está no início, não é possível estimar em que período os criminosos chegariam à prisão.
Ainda nesta quinta-feira, foi preso em Nova Hartz, no Vale do Sinos, um homem suspeito de integrar a quadrilha que estaria financiando a construção do túnel. A escavação descoberta na manhã de quarta-feira tinha 47 metros escavados e em 20 metros chegaria no muro da cadeia. Até o Pavilhão B – onde estão as principais lideranças da facção Os Manos, que teria investido R$ 1 milhão na obra, incluindo a compra de uma casa – são mais 40 metros.
Se o objetivo fosse chegar até o Pavilhão B, a empreitada ainda poderia se arrastar mais dois meses. Mas, conforme a Brigada Militar, que administra o presídio, foi confirmado que a escavação tinha como objetivo ingressar na cadeia pelo Pavilhão D, que fica próximo ao muro.
Diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS), o engenheiro civil Sérgio Luiz Brum considera a obra "de média complexidade, mas muito perigosa". Embora o trabalho tenha exigido boa dose de técnica, ele descarta a participação de engenheiros. Segundo Brum, as características do solo da região, do tipo areno-argiloso, facilitou a escavação, pois o terreno não é tão suscetível a desmoronamentos.
– Ali, acredito que se aplicou apenas o conhecimento empírico de quem trabalha com escavações e olha para o solo e acha que ele é estável. Um erro no escoramento poderia ter feito tudo vir abaixo. Em uma obra técnica orientada, vai se fazer análise do solo antes de se escavar, assim como médico pede exames para o paciente.
Para o engenheiro Sérgio Moraes, diretor da SPM Engenharia, devido às condições e ferramentas inadequadas, o trabalho pode ser considerado de "alta complexidade":
– E criatividade também. Ainda bem que descobriram – acrescenta, ressaltando a precariedade do sistema de ventilação, com utilizava ventiladores comuns, de chão.
Grupo escavava cerca de 1 metro por dia
A Polícia Civil acredita que o trabalho vinha sendo feito havia pelo menos dois meses. Cálculos dos especialistas indicam que o grupo escavava uma média de um metro por dia. A "eficiência" chamou atenção. Dadas as proporções, a obra da Trincheira da Anita Garibaldi, na zona norte de Porto Alegre, foi inaugurada em setembro do ano passado com mais de dois anos de atraso e uma média de 15 centímetros por dia. Com 210 metros de extensão, a construção estava no pacote da Copa de 2014 e custou R$ 13,4 milhões, sendo que se iniciou em janeiro de 2013.
Para o diretor do Presídio Central de Porto Alegre, tenente-coronel Marcelo Gayer Barboza, mesmo se não tivesse sido descoberto, o plano de fuga acabaria frustrado. Ele afirma que seria "impossível" chegar aos pavilhões.
– O muro possui uma profundidade para baixo maior que a altura. Esse é o primeiro obstáculo. Depois, há outras barreiras, construídas a partir de 2010 justamente para evitar a construção de túneis – informa, sem dar detalhes por questão de segurança.