O grupo contratado para construir o túnel que possibilitaria a fuga de detentos do Presídio Central cumpria "expediente" nos turnos da manhã e tarde e descansava à noite. Cada um ganhava, segundo eles, R$ 1 mil por semana para executar a obra que surpreendeu policiais pela estrutura e que poderia ser o caminho para a maior fuga do sistema prisional gaúcho.
– Era normal. A gente começava às 8h, parava para almoçar. Trabalhava à tarde. E à noite tomava banho e assistia TV – contou a Zero Hora um dos homens presos na casa, situada na Vila Aparício Borges.
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A Polícia Civil acredita que o trabalho vinha sendo feito há pelo menos dois meses. A casa estava sendo monitorada por policiais durante 24 horas e chamava a atenção o fato de que, apesar de haver movimentação de supostos pedreiros, não havia sinais de que a obra avançava.
Na terça-feira, a chegada no local de um fogão e de uma geladeira fez a polícia desconfiar de que o grupo pretendia permanecer mais tempo trabalhando e, então, poderia concluir a obra mais rápido. A suspeita é de que a fuga poderia ocorrer no Carnaval. Por isso, a ação foi desencadeada já nesta quarta-feira.
A casa em que o grupo se instalou tem oito peças: sala na entrada, cozinha, outra sala, dois quartos, outra cozinha, um banheiro e uma área. Nesta área, que é toda fechada, foi aberta uma passagem que levava para a casa ao lado, local onde estava sendo aberto o túnel e que servia para armazenar a terra retirada do buraco.
No local havia muita comida estocada, especialmente, produtos para lanches rápidos. Colchões, ventiladores, aparelhos de TV, pás e outros equipamentos necessários para a execução da obra. Muitas mochilas, sacolas e até brinquedo de criança. Sobre umas das TV, havia uma Bíblia.
Os presos comentaram que os vizinhos até desconfiavam da movimentação.
– Mas a gente se esforçava para não fazer barulho, não chamar a atenção – explicou um deles.
Diante de policiais, a única mulher que estava com o grupo, reforçou uma informação sobre a rotina deles:
– A gente não tinha armas nem drogas.
No buraco de acesso ao túnel, havia uma corda que servia para a comunicação entre o grupo que estava sob a terra e o grupo que ficava na casa. Também era por meio dela que eram retirados os baldes de terra do local. Nesse segundo imóvel, onde era feito o túnel, há muita terra armazenada. A polícia acredita que o túnel já tinha 47 metros em direção ao Central.