Apontada como a terceira maior facção do país, atrás apenas do PCC e do Comando Vermelho, a Família do Norte (FDN) do Amazonas matou cerca de 60 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj. As mortes estão relacionadas com a disputa entre a FDN e o PCC. Para os investigadores ouvidos pela reportagem, não se trata de um rebelião e sim de um "limpa geral" da FDN contra integrantes da facção paulista no Amazonas.
A FDN atua no tráfico de drogas, em especial de cocaína, na região norte do país por meio do domínio da "rota do Solimões", responsável por escoar toda a droga produzida no Peru e Bolívia para os centros consumidores no Brasil e no Exterior. Aliada do Comando Vermelho, a FDN foi alvo da operação La Muralla da Polícia Federal em 20 de novembro de 2015. Os principais líderes da facção foram presos e transferidos para presídios federais.
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Na investigação que deu origem à La Muralla, a Polícia federal já havia mapeado a disputa entre as duas facções. Em pouco mais de seis meses de investigações, segundo a PF, "foram interceptadas e analisadas mais de 1 milhão e cem mil mensagens e chamadas telefônicas relacionadas a todo tipo de práticas criminosas, sendo coletados importantes elementos de informação e de prova de crimes como tráfico internacional de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, homicídios, sequestros, torturas, corrupção de autoridades públicas e outros conexos, que são praticados e/ou planejados diariamente por praticamente por seus membros".
Grampos da operação La Muralla mostravam plano da FDN atacar PCC
Na operação La Muralla, a Polícia Federal deu um duro golpe na facção Família do Norte (FDN) ao investir contra suas principais lideranças. Ao longo da investigação, os policias da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Superintendência do Amazonas mapearam toda a estrutura da organização criminosa e cumpriram 127 mandados de prisão preventiva, 67 mandados de busca e apreensão, sete buscas em presídios estaduais, 68 medidas de sequestro de bens, além do bloqueio de ativos registrados em 173 CPFs e CNPJs ligados à FDN.
À época, em mensagens de texto interceptadas, a PF acompanhava a "rixa" entre integrantes da FDN e do PCC. Segundo o relatório final da La Muralla, diversas mensagens interceptadas "deixam claro que a FDN possui uma forte relação ou aliança com o Comando Vermelho-CV, facção criminosa do Estado do Rio de Janeiro, e uma espécie de rixa com os membros da facção Primeiro Comando da Capital-PCC".
Ainda segundo a PF, naquele momento, em 2015, já existiam "planos para o assassinato de todos os membros desta organização criminosa paulista que se encontram presos em Manaus (pelo menos 3 das principais lideranças do PCC foram brutalmente assassinadas nos últimos meses pela FDN dentro do sistema)".
De acordo com a PF, o único obstáculo existente até então para evitar que a FDN colocasse em prática seu plano de matar os rivais do PCC era "o fato de que todos os presidiários de Manaus que possuíam vínculos com os referidos grupos criminosos estavam custodiados em ala própria no Centro de Detenção Provisória – CDPM, pavilhões 1 e 2, apelidados de 'seguro', sob forte proteção policial".
Ainda segundo o relatório da PF, embora a FDN fosse aliada do Comando Vermelho, não havia nenhuma relação de submissão entre as duas facções. Diz o relatório: "Todavia, está claro que não existe nenhuma relação de submissão da facção amazonense ao CV e/ou PCC, sendo este o grande diferencial da FDN em relação às demais organizações criminosas do Brasil".
Durante a investigação também foram realizadas 11 grandes apreensões de aproximadamente 2,2 toneladas de drogas, avaliadas em mais de R$ 18 milhões, além de armas de fogo de grosso calibre, que incluem submetralhadoras 9mm e granadas explosivas de mão.
Assim como outras facções, a FDN tem um estatuto próprio com os "pilares de hierarquia e disciplina, para difusão através de extrema violência aos detentos do sistema prisional amazonense". A regra número um é que nada é feito ou definido sem a ordem ou aprovação de seus fundadores e principais lideranças, que são: Gelson Lima Carnaúba, vulgo "G" e José Roberto Fernandes Barbosa, antigo traficante do bairro Compensa, conhecido pelas alcunhas de "Z", "Messi" e/ou "Pertuba".
*Estadão Conteúdo