A rebelião na Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, teve início na tarde de sábado, devido a uma briga nos pavilhões 4 e 5 entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Sindicato do Crime, aliada ao Comando Vermelho.
Inicialmente, o governo daquele Estado informou que 10 pessoas haviam morrido, mas, no domingo, corrigiu para 26 o número de vítimas fatais. Segundo o governo, todos os mortos são ligados ao Sindicato do Crime.
A matança é mais um capítulo da crise penitenciária no país: foi o terceiro massacre em presídios em apenas 15 dias. No total, 134 detentos já foram assassinados somente neste ano, 36% do total do ano passado, quando 372 presos foram mortos, segundo dados do jornal Folha de S.Paulo.
O confronto em Nísia Floresta só foi controlado por volta das 8h de domingo, quando policiais do choque da Polícia Militar entraram no presídio e ficaram numa espécie de pátio que separava o PCC do Sindicato do Crime.
Porém, a trégua durou poucos dias. Na terça e nesta quinta-feira houve novos confronto, pois, desde o motim de sábado, os presos continuam livres dentro da detenção, ocupando os telhados e fazendo ameaças mútuas aos rivais.
Do lado de fora, no domingo, estava estacionado um caminhão-frigorífico alugado pelo Estado para transportar e abrigar as vítimas do massacre. A utilização do veículo foi uma tentativa de suprir a deficiência estrutural do Instituto Médico-Legal (IML) de Natal, para onde foram encaminhados os mortos, 15 deles decapitados e dois carbonizados.
Segundo o governo estadual, o trabalho completo de identificação das vítimas levará em torno de 30 dias. Médicos-legistas da Paraíba foram convocados para ajudar.
O secretário de Justiça e Cidadania do Estado, Wallber Virgulino, afirmou na segunda-feira que a polícia controla o presídio com agentes nas guaritas, mas reconheceu que a situação da estrutura é precária e que os pavilhões estão destruídos.
Em cima dos telhados, dezenas de presos se revezavam para balançar bandeiras. De um lado: "Fora PCCu. Queremos a paz, mas não fugimos da guerra. RN, FDN + CV", referência às facções Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte, Família do Norte e Comando Vermelho.
De outro, exaltação à sigla do Primeiro Comando da Capital.
Ainda na segunda-feira, policiais militares entraram no presídio e retiraram cinco homens que, segundo o governo do Estado, lideraram o massacre de sábado. Eles foram transferidos para um local não divulgado.
Os detentos seguiam livres dentro dos pavilhões e ainda ocupavam os telhados da detenção na terça-feira. Em razão disso, o governo do Estado afirmou que reformaria o presídio para construir um muro separando as duas facções que controlam o local.
A tensão nos presídios ganhou as ruas na quarta-feira, quando onze ônibus, dois micro-ônibus, um carro do governo do Rio Grande do Norte e duas delegacias foram alvos de ataques em Natal, no mesmo momento em que a Polícia Militar fez a remoção de 220 presos da Penitenciária de Alcaçuz. Os bandidos incendiaram ônibus, dispararam contra o carro e o prédio do 1º Distrito Policial e mandaram uma mensagem com ameaças para os policiais. Segundo a comunicação da PM, a Secretaria da Segurança investiga se os ataques têm relação com a crise no sistema penitenciário do Estado. Essa remoção de presos foi uma nova tentativa de o Estado retomar o controle da unidade.
Nesta quinta-feira, os presidiários voltaram a se enfrentar na penitenciária. Por volta das 11h30min, as duas facções entraram em confronto. No início, mantiveram a distância dentro do pátio, mas se agrediam com pedras e pedaços de madeiras jogados de lado a lado.
Entre as duas facções, mas do alto das guaritas, os policiais atiravam com armas não letais, em uma tentativa de impedir a aproximação dos dois grupos.
O embate corporal foi inevitável entre as duas facções, que se digladiaram. Os presos se espalharam pelo presídio. Quando um grupo ameaça avançar em direção ao outro, a PM atirava para conter. Imagens mostram o momento em que vários apenados feridos são removidos em carrinhos de mão e levados para dentro das alas.
Durante toda a tarde, houve confrontos entre as facções, com objetos sendo arremessados de lado a lado.