Na madrugada desta terça-feira, poucas horas depois de ter adormecido, o motorista Persio Teixeira da Silva, 50 anos, despertou para um pesadelo. Por volta das 3h, ao som de tiros, viu sua casa ser invadida por dois homens armados, acompanhou a família ser ameaçada e foi levado como refém pelos criminosos.
Minutos antes, um grupo de quatro bandidos havia trocado cerca de 100 tiros com a Polícia Civil ao ter o plano de atacar uma agência bancária frustrado, em Arroio dos Ratos, na Região Metropolitana. Dois deles fugiram em um carro, e os outros dois invadiram a casa do motorista, localizada a 800 metros do banco.
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Persio foi levado pelos criminosos no carro da família, um Tempra, e obrigado a circular pela região durante 15 minutos. A Zero Hora, o motorista contou os momentos de pânico que vivenciou ao lado dos bandidos.
O que você estava fazendo quando teve a casa invadida?
Eu estava dormindo. Tinha acordado uns 10 minutos antes ao som de um tiroteio, que estava acontecendo perto da minha rua. Pouco depois, acordei de novo ao som de tiros, mas desta vez vi que estavam sendo disparados na minha rua. Foi quando ouvi arrombarem a porta da minha casa. Aí eu já não sabia mais o que fazer.
Você estava sozinho em casa?
Não. Minha mulher e meus dois filhos, de 11 e 15 anos, também estavam em casa. Minha filha, a menor, acordou com a invasão e se escondeu atrás da cortina, morrendo de medo. Minha mulher também ficou em pânico.
O que eles disseram quando entraram?
Primeiro disseram que eram da polícia, que era pra nós ficarmos calmos, que queriam meu carro e que nada iria acontecer com a minha família. Eu peguei a chave, e entreguei a eles. Foi quando disseram que eu deveria ir junto no carro. Minha esposa implorou para eles me deixarem, mas eles disseram que eu deveria ir junto para tirá-los da cidade.
Quanto tempo você ficou dentro do carro com os criminosos?
Acho que cerca de 15 minutos. Eu fiquei na carona, um deles dirigia e o outro ficou no banco de trás. Daí eles ficaram circulando, procurando os outros dois criminosos que haviam fugido em um outro veículo. Eles não falavam comigo, um ficava só falando com o outro, pedindo para ficar de olho para achar os parceiros.
Qual foi a sensação ao ser feito refém?
Foi uma sensação terrível, foi horrível dentro do carro. Você vê essas coisas na televisão, mas nunca acredita que vai acontecer contigo. E infelizmente aconteceu.
E quando lhe largaram....
Daí quando encontraram os outros criminosos me mandaram sair do carro e correr para o mato. Eu fiz isso, sem olhar para trás. Sorte que me deixaram perto de uma empresa que tem segurança noturna. Daí fui para lá e liguei para minha mulher, que foi me buscar já junto com a polícia. Minha esposa achou que tinham me matado, mas graças a Deus não.
Como é a questão da segurança na sua cidade? Você já se sentia inseguro?
Sim, já tivemos pelo menos outros dois tiroteios aqui. É tudo muito precário, e a gente fica apreensivo o tempo todo. Agora que isso aconteceu e eu sobrevivi, a primeira coisa que vou fazer é comemorar. Nasci de novo.