O advogado de 65 anos que reagiu e matou o assaltante que invadiu o terraço de seu sobrado em Caxias do Sul na noite de sexta-feira está preocupado com a repercussão do caso, pois teme que isso possa trazer ainda mais a violência. O idoso aceitou falar com a reportagem na manhã deste domingo e ressaltou que "o sentimento de tirar a vida de uma pessoa é muito ruim".
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Na Polícia Civil, o caso foi registrado como roubo a residência e homicídio por legítima defesa. Na manhã deste domingo, o Departamento de Perícias do Interior (DPI) trabalhava na identificação do homem morto. Ele foi atingido por um tiro no tórax e não portava documentos. Possíveis familiares eram aguardados para o reconhecimento.
Morador do São Pelegrino há 60 anos, o advogado mora sozinho desde o ano passado, quando faleceu sua mãe de 93 anos. Ele afirma que a pistola calibre 7,65 foi adquirida há mais de 20 anos justamente para defesa pessoal e que nunca teve a intenção de atirar contra uma pessoa. Por medo de represálias, o advogado pediu para não ser identificado na reportagem.
Pioneiro: O que aconteceu?
Advogado: Ele (ladrão) subiu pelo portão de um prédio vizinho até o terraço da minha casa. Eu só desconfiei quando ouvi o barulho de alguém quebrando a porta de vidro. Fui verificar e ele tentou me agredir, mas consegui voltar para dentro da casa. Peguei a arma e gritei várias vezes para ele ir embora. Repetia que estava armado e mandava ele sair. Mas ele não deu bola. Quando me aproximei da porta, ele veio para cima de mim com uma faca. Foi quando atirei.
Esta arma era sua?
Sim. Tenho esta arma para defesa, mas nunca pretendi usar. Faz mais de 20 anos (que a possuo) e nunca tinha utilizado. Estou me sentindo mal. É uma sensação ruim e inexplicável. Nunca pensei em atirar em alguém e levar a óbito. Minha intenção era acertar uma perna e imobilizar. Infelizmente terminou assim.
A região onde mora é perigosa?
Faz 60 anos que moro no mesmo endereço e me sentia seguro, até acontecer isso. Agora estou meio em pânico. Sei que hoje toda e qualquer região é perigosa. E que marginal passa toda hora pela minha rua. Mas nunca imaginei que alguém fosse subir. É um susto encontrar alguém na sua casa. Não consegui visualizar muita coisa (do assaltante).
Como o senhor acompanha a repercussão do caso?
Procuro nem olhar (as notícias). Estou mal (com a história). É um peso que estou sentindo. Não queria chegar a este ponto. Eu não aceito essa história (que bandido bom é bandido morto). Tirar a vida de uma pessoa não é direito de ninguém. Eu apenas me defendi. A intenção era imobilizar ele. Jamais pensei em tirar a vida de uma pessoa. A vida é sagrada para todos. Não quero projeção (por este acaso), é uma fama ruim e irrelevante.