A guerra entre quadrilhas ligadas ao tráfico de drogas na zona sul de Porto Alegre fez mais uma vítima inocente e traumatizou uma criança de quatro anos. Esta foi a conclusão a que chegou a Polícia Civil ao descobrir que o empresário Marcelo Oliveira Dias, 44 anos, morto na frente da filha no estacionamento do supermercado Zaffari, na Avenida da Cavalhada, na quinta-feira, não era o alvo dos executores. Ele foi morto por engano, por estar em um carro com a mesma cor do veículo de um dos líderes do tráfico da região do Beco do Adelar, que seria executado.
A conclusão das investigações foi apresentada ontem à tarde, durante entrevista coletiva da delegada Elisa Souza, titular da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (6ª DHPP), que contou com as presenças do secretário de Segurança Pública, Cezar Schirmer, e de representantes das cúpulas da Polícia Civil, da Brigada Militar (BM) e do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
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Quatro pessoas participaram do crime. Entre elas, uma adolescente de 16 anos apreendida na noite de quinta-feira. Outros dois envolvidos fizeram uma nova investida contra o traficante no sábado, no Beco do Adelar. Houve confronto com a BM: um dos criminosos acabou morto, e o outro, preso. O quarto participante está foragido.
O ataque ao traficante, armado por rivais que atuam na Vila dos Sargentos, conforme apontaram as investigações, teve a sua primeira parte deflagrado por meio de redes sociais. Com o uso de um perfil falso, uma suposta mulher prometeu um encontro amoroso com o traficante, marcado para as 18h30min de quinta-feira, na porta do supermercado.
Os criminosos encarregados da execução foram ao local em um Fiesta, com a adolescente de 16 anos, que serviria como "isca". A função dela seria encontrar o traficante na porta do estabelecimento e avisar aos demais de sua chegada. Eles tinham a informação de que o alvo chegaria em um carro branco. Essa foi a trágica coincidência que vitimou o empresário: a jovem, ao vê-lo estacionar o Peugeot 208 branco, poucos minutos antes do horário marcado, deu o sinal aos executores.
– Quando entrou no estacionamento, Marcelo deu algumas voltas para encontrar uma vaga e acabou encontrando a morte – descreveu a delegada.
O traficante ainda teria chegado ao local e falado com a adolescente, mas fugiu, enquanto Marcelo era executado com pelo menos 15 tiros. No fim da noite de quinta-feira, PMs do 21º Batalhão de Polícia Militar (21º BPM) apreenderam o veículo utilizado pelos criminosos. Era um Fiesta que havia sido roubado. O carro foi encaminhado à perícia no IGP. Por meio de impressões digitais, chegaram à adolescente. A partir dela, foram identificados os outros três envolvidos.
Além de matar o empresário, os criminosos deixaram sua filha, de quatro anos, ferida. A polícia não soube precisar se ela foi atingida de raspão por uma das balas ou por estilhaço de vidros. A menina já recebeu alta. Marcelo era um dos donos da academia Acquativa, na Avenida Juca Batista. Frequentadores o descreveram como uma pessoa educada, séria e muito calma.
Ordem para ataque partiu de cadeia
A ordem para a execução do traficante – situação que acabou na morte de Marcelo Dias – partiu dos presos Bruno Fernando Teixeira e Geovane Bueno Antunes, o Choupana, que estão no sistema penitenciário. Diante do equívoco no primeiro ataque, o grupo da Vila dos Sargentos tentou uma nova investida no sábado. Dessa vez, foram ao Beco do Adelar, no bairro Aberta dos Morros, em três carros e fortemente armados.
Os criminosos invadiram a região atirando. Traficantes do local revidaram. Uma mulher de 32 anos foi baleada na perna, e uma adolescente, de 13, nas nádegas. Ambas não tinham relação com o conflito e foram socorridas no Hospital da Restinga.
Um carro do 21º BPM deparou com parte do grupo invasor, que estava em um Peugeot 207. Houve troca de tiros, e Régis Maurício Lima Alves, que estava no carro, foi morto. Ele foi identificado como o motorista do Fiesta na ação que resultou na morte do empresário. Outro suspeito também foi baleado, mas não corre risco de morrer.
Parte do bando invadiu uma casa e fez moradores reféns. Após negociação, os criminosos se renderam. Eram sete jovens e três adolescentes. Entre eles, estava Carlos Henrique Duarte, o Nego Beiço, um dos dois que atiraram no empresário. O outro, Rafael de Albuquerque, o Xuxa, está foragido. Com o grupo, a BM apreendeu dois fuzis, uma espingarda, quatro pistolas, um revólver e dois coletes à prova de balas.