Infelizmente, não sinto a mesma perplexidade que a maioria das pessoas em relação ao crime ocorrido no aeroporto Salgado Filho. Lógico que não há como não se lamentar a morte de mais um jovem, ainda no dia em que completava 18 anos. Triste e trágico aniversário.
Mas, especificamente sobre o local do crime, garanto a vocês que não me surpreende. Há mais de um ano, desde que comecei a escrever a coluna Boletim de Ocorrência, venho batendo na tecla: os criminosos, em especial os homicidas, perderam os limites geográficos.
Em 2015, foram registrados crimes, em horários de pico, em avenidas movimentadas como a Sertório, a Farrapos e a Bento Gonçalves, por exemplo. Faz algum tempo que ocorrem homicídios – ou tentativas – em hospitais de grande circulação de pessoas.
Até mesmo a desova, algo que, até recentemente, só era imaginável em locais ermos, chegou à área central da cidade, com criminosos deixando o corpo de um adolescente, à luz do dia, em pleno bairro Independência, há duas semanas.
Fatos como esses já eram comuns na periferia, onde há muito tempo ocorrem homicídios e até chacinas perante a comunidade, incluindo as crianças. Dificilmente, encontraremos um morador de alguma vila que não tenha cruzado por algum local de crime. Nessas áreas, o policiamento sempre foi precário, para não dizer inexistente.
O que ocorre agora é que a falta de políticas públicas e sociais para o combate da violência em sua raiz, somada à ampliação para praticamente toda a cidade da carência de efetivo policial, multiplica o sentimento de impunidade e a ousadia dos autores de crime.
Nesse aspecto, a insuficiência de policiamento aproxima o asfalto da periferia.